Com
chamada de capa na edição de domingo (8) e segunda-feira (9), o jornal Le Monde
relata "os massacres de presos em série" ocorridos nesta semana nas
prisões brasileiras". Para o vespertino francês, não há dúvida: as duas
rebeliões nos presídios do norte do país, que deixaram 87 detentos mortos, em
um intervalo de quatro dias, mostram que "o sistema carcerário brasileiro
está à beira da explosão".
O Le Monde afirma que os brasileiros "estão
assustados e com vergonha do estado de suas prisões". Nas
duas rebeliões, detentos foram barbaramente decapitados,
esquartejados e abandonados em poças de sangue, reitera o diário.
O jornal conta que embora o ministro da Justiça, Alexandre de
Moraes, tenha descartado a hipótese de um acerto de contas entre facções no
caso da penitenciária agrícola de Monte Cristo, na sexta-feira (6), em Roraima,
"essa nova carnificina parece uma medida de represália do Primeiro Comando
da Capital (PCC)", que teve 56
de seus membros assassinados pela facção rival Família do Norte (FDN),
na segunda-feira (2), em Manaus.
Le Monde explica o contexto desse "novo
capítulo macabro da guerra de gangues", como resumiu Sérgio de
Lima, do Fórum de Segurança Pública. As duas organizações mafiosas romperam há
alguns meses uma trégua precária e agora travam uma guerra sangrenta pelo
controle territorial do tráfico de drogas.
O vespertino relata que até o ministro da Justiça reconhece que
o elevado grau de barbárie na luta entre traficantes não pode justificar tanta
atrocidade. A superlotação dos presídios, a falta de condições mínimas de
higiene, a coabitação de detentos de diferentes graus de periculosidade e a
completa ausência do Estado, como assinalou a ONG Humam Rights Watch (HRW), são
fatores que alimentam essas rebeliões.
DESCRIÇÃO
DAS CONDIÇÕES DE HIGIENE DOS DETENTOS FERE IMAGEM DO PAÍS
Entre 2004 e 2014, a população carcerária brasileira aumentou
85%, sublinha a ONG. "Segundo a HRW, 40% dos detentos que aguardam
julgamento estão encarcerados junto com presos já condenados, o que constitui
uma contravenção aos princípios de direitos humanos e à lei brasileira",
declara a diretora local da ONG, Laura Canineu.
Le Monde informa que desde 2012, a Pastoral
Carcerária havia denunciado as condições inaceitáveis dos detentos na Amazônia.
"Depois de visitar alguns estabelecimentos durante 40 dias, o padre Valdir
João Silveira elaborou um relatório apontando a superlotação e condições de
higiene deploráveis, como a falta de sabonete e de papel higiênico."
O jornal mostra que um relatório da HRW de 2015 citava
"células sem janela nem leitos, onde 37 presos dormem em cima de um lençol
no chão [...] outra em que 60 homens dormem em pé, agarrados às grades, e
passam o dia envoltos num odor pestilento de mofo, suor, urina e
excrementos". A Aids e a tuberculose reinam nos presídios.
SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL reconhece situação dramática nos presídios brasileiros
Em sua maioria indigentes, os detentos e suas famílias não têm
outra escolha a não ser se entregar às gangues para sobreviver, constata o Le Monde. A reportagem
diz que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia, reconhece
a gravidade da situação e a provável "explosão do sistema
carcerário".
O texto termina com a declaração atrapalhada do presidente
Michel Temer, que se referiu à rebelião de Manaus como "um acidente
pavoroso". Depois do incidente, ele anunciou a construção de novos
presídios. Porém, o plano só vai diminuir a superlotação em 0,4%, segundo
a Folha de S.Paulo,
conclui Le Monde.
Fournis par France Médias Monde REUTERS/Ueslei Marcelino
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