O
irmão do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em janeiro de 2002,
Bruno Daniel, disse em entrevista à Rádio Estadão nesta sexta-feira, 1º, ter esperança
que a 27ª fase da Lava Jato, Carbono 14,
deflagrada durante a manhã, possa lançar luz sobre as investigações
do assassinato. Bruno e outros familiares de Celso Daniel defendem a tese de
crime político, pela qual o ex-prefeito teria sido morto para evitar denúncias
sobre esquemas de corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados.
"A operação Lava Jato, nesta etapa Carbono 14, pode lançar
luz sobre o que aconteceu naquela época", afirmou Bruno. "É
necessário esclarecer por que razão a direção do PT teria remetido, através de
esquemas ilícitos, cerca de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto,
dinheiro com qual ele teria adquirido o jornal do Grande ABC mediante chantagem
ao Lula, ao José Dirceu e ao Gilberto Carvalho", complementa.
Bruno Daniel acusa o PT de tentar dissuadir a família de seguir
pressionando pela apuração do caso. "O partido fez tudo o que era possível
e imaginável para reforçar a tese da polícia, segundo a qual o crime seria um
crime comum. Isso foi feito por inúmeros estratagemas. Por que razão o Partido
dos Trabalhadores, com pouquíssimas exceções, se portou desse jeito?",
questionou. Ele citou apenas três pessoas do PT, Hélio Bicudo - hoje um dos
autores do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff -, o
ex-senador Eduardo Suplicy e o então vereador em Santo André Ricardo Alvarez de
não serem coniventes com os indícios de crime político.
A Carbono 14 investiga supostos repasses do pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Ronan.
Segundo as investigações, Bumlai tomou um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões
em 2004 do Banco Schahin. Parte dos recursos foi destinada a pagar dívidas do
PT. Metade do valor, segundo disse Bumlai à Polícia Federal, teria sido
destinada a quitar dívidas da campanha petista em Campinas, em 2002 e 2004. A
força-tarefa diz também que a operacionalização do esquema se deu inicialmente
com o Frigorífico Bertin. De acordo com os investigadores, os
outros R$ 6 milhões do montante foram destinados a Ronan Maria Pinto. Os
procuradores agora querem saber o porquê. Em coletiva nesta manhã, a
Lava Jato admitiu que investiga o elo com a morte de Celso Daniel, mas não deu
maiores detalhes.
Bruno disse que cabe à polícia investigar, mas que ele acredita
que Ronan teria informações sobre a morte de seu irmão e que obteve recursos ao
chantagear dirigentes petistas para manter o silêncio. "Imagino, agora é
só imaginação, pois quem deve elucidar isso é a investigação, mas imagino que
ele (Ronan) tenha chantageado essas pessoas porque ele revelaria coisas
relativas ao assassinato do Celso", afirmou.
Gilberto
Carvalho. O
irmão lembrou que foi encontrado um dossiê sobre corrupção na prefeitura de
Santo André, no apartamento de Celso Daniel, três meses após a morte. Bruno
alega que o documento foi produzido pelo ex-ministro Gilberto Carvalho. Bruno
também acusa Carvalho de tentar dissuadir a ele e seu irmão, João Francisco
Daniel, a não insistirem no caso.
"À época da missa de sétimo dia do Celso, meu irmão e eu
fomos procurados pelo Gilberto Carvalho, que disse que havia um esquema para
arrecadação de recursos para campanhas eleitorais do PT e aliados e que ele
próprio (Carvalho) havia levado ao José Dirceu, então presidente do Partido dos
Trabalhadores a quantia de R$ 1,2 milhão no seu 'corsinha' preto",
relatou. "Nos perguntamos por que razão ele teria dito isso. A hipótese
que a gente trabalha é que isso nos desestimularia a prosseguir nas
investigações porque isso poderia representar uma mancha na história do
Celso."
"Se houve problemas relacionados a esquemas espúrios de
arrecadação de recursos, isso teria que ser apurado, mas nada justifica tortura
e assassinato de quem quer que fosse", declarou.
Outro petista citado por Bruno na entrevista foi o atual
prefeito de Mauá, Donisete Braga. "O então deputado estadual, Donisete
Braga, teve seu celular rastreado na região do cativeiro do meu irmão, isso
nunca foi esclarecido. O que estaria ele fazendo na região do cativeiro?"
Crime
político. Na
entrevista, Bruno Daniel lembrou que a polícia trabalhou o tempo todo com a
tese, a seu ver "estapafúrdia", de crime comum, e que o Ministério
Público, a pedido da família, seguiu a tese de crime político. Bruno lembrou
também o caso do legista Carlos Delmonte Printes, que à época veio a público
dizer que o assassinato de Celso Daniel tinha indícios que apontavam para
queima de arquivo. O legista deu uma entrevista ao programa de Jô Soares, na TV
Globo, e pouco depois apareceu morto. A polícia, na ocasião, encerrou o caso
como suicídio, destacou Bruno. "Não foi encontrado nada no corpo dele que
indicasse suicídio. Ele inclusive era de origem judaica e a família não aceitou
que ele fosse enterrado em área separada no cemitério, como é da tradição
deles", apontou.
Bruno destacou que seis pessoas já foram condenadas por
envolvimento no caso da morte de seu irmão, mas que o suposto mandante Sergio
Gomes da Silva, o 'Sombra', não foi ainda levado a júri popular. Bruno Daniel
diz que também seria importante questionar de onde o 'Sombra' tirou recursos
para pagar o advogado, Roberto Podval. "De onde saem os recursos de Sergio
Gomes da Silva pra pagar o escritório de advocacia do doutor Podval, que cobra
o olho da cara por seus serviços, de onde saem esses recursos?", insistiu.
Podval é também o defensor de José Dirceu, que foi preso na Lava Jato.
Outro
lado. Contatado
pela reportagem, Donisete Braga disse que sua resposta é "a resposta da
Justiça". "O Tribunal de Justiça, por decisão unânime, por 25 votos a
zero, rejeitou a denúncia, bem como o promotor Rodrigo Pinto. Inclusive o
próprio governador do Estado, Geraldo Alckmin, fez um documento informando
minha presença no Palácio dos Bandeirantes no horário (do suposto rastreamento
do celular", disse o prefeito de Mauá.
Donisete Braga destacou ainda que a questão lhe causou dano
político e pessoal e incluiu, em sua resposta, que até mesmo sua adversária na
disputa eleitoral pela prefeitura em 2012, Vanessa Damo (PMDB), ficou
inelegível por ter recorrido ao tema na campanha. "Não quero repetir esse
assunto que causou um transtorno imenso à minha vida", disse. Sobre a
acusação de Bruno Daniel de que praticamente todos os membros do PT tentaram
abafar a investigação do crime político, Donisete Braga disse que não iria se
pronunciar. "Sem comentários", disse.
A reportagem também tentou contato com o presidente nacional do
PT, Rui Falcão, com o Instituto Lula, com o próprio partido, além de Carvalho e
do advogado Roberto Podval e não recebeu retorno até o fechamento desta
matéria.
MSN-NOTÍCIAS
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