A operação que a
Polícia Federal deflagrou hoje (13), no Distrito Federal, Bahia, Paraná e São
Paulo para investigar um suposto esquema de fraudes na liberação de créditos da
Caixa Econômica Federal, entre 2011 e 2013, teve origem na obtenção de informações
extraídas de um aparelho celular apreendido em 2015, do ex-presidente da
Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao
pedir à Justiça Federal autorização para a PF cumprir sete mandados de busca e
apreensão em endereços residenciais e comerciais das quatro unidades da
federação, o Ministério Público Federal (MPF) citou Cunha e o ex-ministro
Geddel Vieira Lima como suspeitos de possíveis crimes de corrupção, formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro, praticados entre 2011 e 2013. Para o procurador
da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, Geddel “valeu-se de seu cargo na
Caixa para, de forma orquestrada, beneficiar empresas com liberações de
créditos dentro de sua área de alçada e fornecer informações privilegiadas para
outros membros da quadrilha composta, ainda, por Eduardo Cunha” e outros.
Também
são representados o ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da
Caixa, Fábio Ferreira Cleto; o ex-vice-presidente de Gestão de Ativos Marcos
Roberto Vasconcelos, exonerado do cargo a pedido em setembro de 2016; o
servidor da Caixa, José Henrique Marques da Cruz, que chegou a ocupar a
vice-presidência de Varejo e Atendimento do banco, além do fundador da Marfrig
Alimentos, Marcos Antonio Molina, e do doleiro Lúcio Bolonha Funaro.
Segundo
o MPF, o ex-deputado Eduardo Cunha manipulava a liberação de créditos na Caixa
com o envolvimento de Cleto e, possivelmente, do então vice-presidente de
Pessoa Jurídica da Caixa, Geddel Vieira, mencionado em diversas mensagens
eletrônicas como beneficiários de valores desviados por meio do esquema.
Geddel
ocupou a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa entre março de 2011 e
dezembro de 2013. Entre 2007 e 2010, período do segundo governo Lula, Geddel
chefiou o Ministério da Integração Nacional. Em maio de 2016, voltou ao Palácio
do Planalto como ministro-chefe da secretaria de governo do presidente Michel
Temer, deixando o cargo em novembro do mesmo ano, alvo de suspeitas de ter
atuado para beneficiar uma construtora na Bahia.
De
acordo com o MPF, foi o ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da
Caixa, Fábio Cleto quem, ao prestar depoimentos à Procuradoria-Geral da
República, acusou Eduardo Cunha de ter recebido propina de empresas em troca da
liberação de verbas do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FI-FGTS ). A gestão do fundo estava sob a responsabilidade da
vice-presidência de Gestão de Ativos, então ocupada por Marcos Roberto
Vasconcelos, que foi exonerado do cargo a pedido, em setembro de 2016.
Para
o procurador Cordeiro Lopes, os indícios de irregularidades já reunidos apontam
que os investigados operaram para fraudar a liberação de créditos da Caixa
empregando técnicas semelhantes às usadas para desviar recursos da Petrobras e
já reveladas pela Operação Lava Jato. Entre outras acusações, o procurador
sustenta que Cunha obtinha empréstimos fraudulentos para empresas participantes
do esquema junto à diretoria comandada por Geddel.
Dentre
as empresas citadas como beneficiárias do esquema estão o grupo J&F, a BR
Vias (pertencente ao Grupo Constantino e alvo da Operação Lava Jato), a Oeste
Sul Empreendimentos Imobiliários, Digibrás, Inepar, Grupo Bertin, entre outras.
“A
BR Vias beneficiava-se de sistemática ilícita para obtenção de recursos junto à
CEF, contando com a participação ativa do então vice-presidente de Pessoa
Jurídica, Geddel Vieira Lima, bem como do ex-deputado federal Eduardo Cunha e
de Fábio Cleto e Lúcio Bolonha”, afirma o procurador. Em uma mensagem extraída
do telefone apreendido de Cunha, Geddel informa o ex-presidente da Câmara de
que há problemas na liberação de créditos para a Oeste Sul.
“Outras
mensagens dão testemunho de que, assim como a BR Vias, outras empresas
vinculadas à família Constantino negociavam a obtenção de recursos na vice-presidência
de Pessoas Jurídicas da CEF”, relata Cordeiro Lopes, mencionando o grupo
Marfrig e Seara como beneficiários do esquema.
Diante
dos argumentos e elementos apresentados pelo MPF, o juiz federal Allisney de
Souza Oliveira autorizou a PF a fazer buscas e apreender documentos em
endereços residenciais e comerciais ligados aos investigados e na própria
Caixa. Também a pedido do MPF, o magistrado suspendeu o sigilo de todo o
processo, inicialmente enviado ao STF, devido ao foro privilegiado de que Geddel
e Cunha dispunham no início das investigações e, posteriormente, remetidos para
o Tribunal Regional Federal do Distrito Federal.
Procurada,
a assessoria do PMDB informou que Geddel ainda não se pronunciou sobre as
suspeitas. A reportagem ainda não conseguiu contato com o ex-ministro, com os
advogados de Eduardo Cunha e com os demais alvos dos mandados de busca e
apreensão.
A
Caixa informou que o banco está em contato permanente com as autoridades,
prestando irrestrita colaboração com as investigações, procedimento que
continuará sendo adotado pela instituição.
Foto: Agência Brasil
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