Reprodução humana: as crianças do tratamento irão herdar os
genes de um pai e de duas mães
São Paulo – Cientistas britânicos anunciaram um novo
método de reprodução que pode salvar as vidas de bebês que nasceram com uma
rara doença hereditária. O tratamento, que foi revelado em um artigo na revista
científica Nature, aponta para a possibilidade de um bebê ter duas mães
diferentes.
O procedimento, controverso,
consiste na substituição de uma pequena quantidade de
DNA defeituoso no óvulo de uma mãe
pelo DNA saudável de outra mulher. Isso significa que as crianças herdam os genes de um pai e de duas mães.
O objetivo por trás do processo é
reduzir as chances de bebês nascerem com doenças mitocondriais,
como dificuldades respiratórias e fraqueza muscular, que são transmitidas
apenas pelas mães. Apesar de raras, elas podem ser fatais antes de a criança
entrar na fase adulta.
Para realizar a troca de DNAs, os
pesquisadores utilizaram uma técnica chamada de “transplante antecipado
pronuclear". Nela, o núcleo do gameta (célula sexual) da mãe com DNA
defeituoso é substituído pelo núcleo do gameta da mulher saudável. Isso é feito
antes que o processo de reprodução das células (meiose) comece.
Estudos anteriores demonstraram que
o processo era tecnicamente viável em óvulos humanos anormalmente fertilizados.
Contudo, segundo os cientistas, eles não conseguiram se desenvolver. Assim, em
resumo, o novo método não afeta negativamente o crescimento do embrião.
“Este estudo utilizando óvulos
humanos normais é um grande avanço, pois previne a transmissão da doença
mitocondrial. Além disso, nós não encontramos nenhuma evidência de que a
técnica não é segura”, afirma Doug Turnbull, coautor da pesquisa, ao site The Independent.
Entretanto, ele adiciona que um de
seus estudos feitos com células-tronco revelaram que a técnica pode
não ser totalmente eficaz ao prevenir a transmissão das doenças. “Mas, para
muitas mulheres que carregam essas mutações, o risco é muito menor do que
conceber [uma criança] naturalmente.”
O próximo passo da pesquisa é sua
apresentação à Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana (HFEA). Caso a
instituição conceda uma licença para o estudo, o procedimento poderá ser
disponibilizado como um tratamento para as mulheres que carregam a condição
genética.
De acordo com Turnbull, para que os
trabalhos continuem, o órgão regulador de pesquisa embriológica do Reino Unido
ainda precisa aprovar o atual estudo, que foi realizado com mais de 500 óvulos
de 64 mulheres. Ele espera, no entanto, que os primeiros bebês sejam “criados”
até o final de 2017.
Antes mesmo de a pesquisa se
revelar um sucesso, críticos da Igreja Católica e da Igreja da Inglaterra
afirmaram que o tratamento afeta as vidas e as concepções de crianças
desnecessariamente. Os defensores do estudo argumentam que ele poupa o
sofrimento de famílias que carregam em seus genes essas graves condições.
MSN NOTÍCIAS
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