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terça-feira, 27 de março de 2018

A INVASÃO DAS BARONESAS NO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO TRAZ SÉRIOS PREJUÍZOS PARA A PISCICULTURA E ECONOMIA REGIONAL


Peixes mortos nos tanques-rede na Quixaba, município de Glória-BA. Foto: Divulgação.
A presença das plantas conhecidas como baronesas nas águas do rio São Francisco, considerado como um acidente ambiental está trazendo enormes prejuízos para a economia regional, afetando vários segmentos como o turismo, a navegação e principalmente, asseguram os especialistas, a grande produção de tilápia em tanques redes nesta região do sub-médio São Francisco.

A situação é tão séria que o Prefeito de Glória, David Cavalcante decretou Calamidade Pública no município. O assunto também tem mobilizado os vereadores da Câmara Municipal de Glória, como afirma o vereador Alex.

Em relato do Gerente Regional da Bahia Pesca em Paulo Afonso, o Médico Veterinário, Consultor em Agronegócios e em Desenvolvimento Sustentável, Anttonio Almeida Júnior a que o jornal Folha Sertaneja teve acesso, ele fala do grande crescimento da atividade de piscicultura na região:

“A Região dos Lagos do Rio São Francisco, Território de Itaparica BA/PE, onde se localizam os municípios de Paulo Afonso e Glória do lado baiano e Jatobá, Petrolândia e Itacuruba do lado pernambucano, se encontra em pleno crescimento da atividade de piscicultura intensiva em tanques rede, sendo indicada como o segundo maior território produtor de tilápia do Brasil com mais de 70 (setenta mil) toneladas de tilápia/ano e, segundo a EMBRAPA (Renata Melon Barroso et alii, julho 2017), em recente pesquisa publicada no projeto “Indicadores socioeconômicos do desempenho da produção da Tilápia no Brasil”, tem o município de Glória como o maior produtor do País, com 16,8 mil toneladas de tilápia/ano.” Almeida Júnior relata o quadro desolador na região nos últimos meses e explica o que levou a esta situação:

“No período de dezembro de 2017 até março de 2018, 08 (oito) piscicultores do povoado Quixaba, no município de Glória, estado da Bahia, e 05 (três) piscicultores do município de Itacuruba, estado de Pernambuco, se depararam, com um quadro estarrecedor de mortalidade de peixes, sem nada poder fazer para reverter ou mitigar o caso. Ressalve-se que outras pisciculturas, cerca de 30 (trinta), em maior ou menor grau de impacto, também foram atingidas.

Prejuízo também para os piscicultores da região. Foto: Assessoria
Os peixes morreram, principalmente, devido a alguns fatores que contribuíram para desencadear o fato:

1- Esgoto doméstico jogado diretamente no leito original do rio, acarretando aporte de matéria-orgânica no sistema, principalmente nitrogênio (N) e fósforo (P);
2- Cota dos reservatórios mantida baixa (abaixo de 30% do volume total – Itaparica);
3- Pouca renovação da água dos reservatórios de Itaparica e Moxotó devido a redução da vazão do rio para 520 m3/s;
4- Baixa oxigenação da água em consequência da diminuição da vazão do rio;
5- Vários dias com ausência de ventos, o que ocasionou a diminuição da já pequena oxigenação de água,
6- Temperatura elevada do nosso verão.”

O gerente da Bahia Pesca em Paulo Afonso explica as consequências desse desastre ambiental e os prejuízos, ou impactos econômicos que ele trouxe, em valor superior a 3,6 milhões de reais, dados a que chegou a partir de pesquisa direta com os atingidos.

Prejuízo também para os piscicultores da região. Foto: Assessoria
“Esses fatores, isolados e/ou em conjunto, levaram a um crescimento anormal de microalgas e das macrófitas aquáticas (Eichornia crassipes e Thypha domingensis ) que se multiplicaram rapidamente (a biomassa pode, em alguns casos, aumentar até 5% ao dia), sendo elas um bioindicador de desequilíbrio no ambiente aquático, deteriorando a saúde do rio e sendo responsáveis pela redução quase que total do oxigênio dissolvido na água, causando sérios problemas para a piscicultura em tanques rede e até para a captação de agua para abastecimento humano e para irrigação.

Os peixes apresentaram comportamento típico de ausência de oxigênio dissolvido no meio aquático, buscando oxigênio na interface água-ar, bem como tentavam pular dos tanques-rede, sendo impedidos pelos tampões das gaiolas. Os piscicultores mesmo tentando de forma rudimentar incorporar oxigênio na água por meio das canoas navegando a motor entre as baterias, não obtiveram resultados satisfatórios com o quadro de mortalidade quase total que já se apresentava em algumas pisciculturas.”

Prejuízo também para os piscicultores da região. Foto: Assessoria
Sugestões para mitigar os efeitos e evitar maiores prejuízos futuros

Após apresentar o quadro preocupante para os piscicultores e para os municípios da região do Sub-Médio São Francisco, Anttonio Almeida Júnior apresenta uma série de sugestões “para mitigar os efeitos já produzidos e evitar maiores prejuízos futuros”.

“Seguem abaixo rol de sugestões de ações serem executadas por parte do Governo Federal, IBAMA, ICMBio, CHESF, CODEVASF, Ministério Público Federal, Governos Estaduais, Bahia Pesca, Prefeituras, Comitê de Bacia, dentre outros, visando mitigar os efeitos já produzidos, bem como evitar maiores prejuízos futuros para esta cadeia produtiva do agronegócio da piscicultura, maior empregadora e geradora de recursos e postos de trabalho nos municípios do Território:

a) Disponibilizar relatório semanal dos parâmetros físico químicos e micro biológicos, com análises da qualidade da água nos reservatórios, para conhecimento e acompanhamento das pisciculturas;
b) Executar, com a devida urgência, o Programa de Saneamento Básico com tratamento de 100% dos esgotos ao longo da calha do rio;
c) Manter o nível da represa da Usina Apolônio Sales (lago de Moxotó) em no mínimo 80% e da Usina Luiz Gonzaga (Itaparica) em 40%.
d) Solicitar da ANA a adoção de vazão mínima de 800 m3/s, efluentes do Lago de Sobradinho, com o objetivo de minimizar o impacto na oxigenação e renovação da água do reservatório;
e) Estabelecer canal direto de conversação com a Bahia Pesca S/A, empresa pública do governo da Bahia, como intermediária dos piscicultores, e os demais atores, para acompanhamento e monitoração das ações e para que seja acionada caso haja qualquer eventualidade.
f) Contratação imediata, em caráter emergencial, de serviços de remoção de baronesas e outras macrófitas da calha do rio;
g) Aquisição de Hidrotrator, 01 por município, como solução definitiva para retirada das baronesas e outras macrófitas aquáticas, tendo em vista a tomada de suas margens e do fundo do rio por essas plantas.”


OZILDO ALVES

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