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enviado para a redação do portal PA4, a leitora Michele Gomes faz um desabafo
ao relatar detalhes de seu parto na maternidade do Hospital Nair Alves de
Souza: “Sofri
violência obstétrica e fui mais uma vítima de negligência médica. Em meu
relato, que segue no anexo, conto o que aconteceu. Sou Michele Gomes, moro no
centro de Paulo Afonso-BA. Agradeço desde já”.
VEJA ABAIXO:
Fui vítima de violência obstétrica em Paulo Afonso-BA
No dia 11/11/2017 minha bolsa rompeu às 3h30min.
Aguardei até 8h e fui a maternidade do hospital Nair Alves
de Souza em Paulo Afonso-BA.
Chegando lá, o médico me examinou e pediu para eu aguardar
em casa as contrações, mesmo sabendo que a cada dor que eu sentia, perdia
líquido amniótico, o que pode causar uma infecção fetal. Também, não me
garantiu vitalidade fetal.
Retornei a maternidade às 17:30h. O médico fez pouco caso,
mas me internou porque, segundo ele, “já era a segunda vez que eu tinha ido
lá”. Pediram para minha mãe, minha acompanhante, ir embora e aguardar notícias,
mesmo sabendo que, conforme a Lei nº 11.108 de 07/04/2005, eu tinha direito a
acompanhante no âmbito do SUS.
Começaram a induzir meu parto com comprimidos. Começaram as
contrações. A cada dor, eu perdia mais líquido. Meu bebê estava ficando cada
vez mais sufocado. A equipe de enfermagem, que fica fora da sala, só me atendia
quando era solicitada e na segunda vez que eu chamava, mesmo com tantas dores,
eu precisava me deslocar até a recepção. Eu pedi “me ajuda a tomar um banho
quente!”, a auxiliar de enfermagem, debochando disse: “Mãezinha, pra tomar
banho não precisa de ajuda!”. Durante uma contração, deixei o absorvente cair,
em resposta, ela me disse que eu tinha que segurá- lo. Certamente porque não
poderia ter o trabalho de chamar alguém da limpeza. Na indução dos comprimidos,
senti dor, até porque é um local sensível, a enfermeira disse: “Você sabe que
seu filho vai sair por aí, não é?”. Acredito que a questão da humanização
deveria ser bem trabalhada nos profissionais da saúde. E o trabalho por amor é
mais gratificante que o trabalho por dinheiro, com tantos trabalhos, é
interessante buscar um onde o bem-estar vem acima do salário mensal.
Enfim começou a dilatação. De 1cm e evoluiu até 8cm. Uma
auxiliar de enfermagem começou a me ajudar na expulsão do bebê. Até o ponto que
conheço, sem desmerecer a auxiliar de enfermagem, ela não poderia fazer isso
sozinha, conforme descrito no Parecer Coren – BA Nº 022/214. E o médico onde
estava?
Confesso que não o vi mais desde minha internação. Deste
modo, não posso aqui imaginar onde estava presente. Mas, bendito é Deus sobre
todas as coisas!
Surgiu um enfermeiro, calmo e paciente, que no auge de minha
dor e sofrimento, me ajudou – me disse, posteriormente, uma enfermeira, que ele
não fez mais do que a obrigação dele. Porém, para mim, ele foi muito mais
competente do que as palavras dela e o suposto médico que “me abandonou”.
Esse enfermeiro chamou ligeiramente um outro médico do
plantão, que, abençoado, viu que eu não tinha condições de ter um parto normal.
Reuniu ligeiramente a equipe médica e em minutos meu bebê nasceu por meio de
uma cesariana, isso, às 23h24min, depois de 8h de perca de líquido e muito
sofrimento.
Com tanto sofrimento, sem força, com medo, assustada… eu
ainda ouvi: “Vou tentar salvar a vida desse bebê, não sei consigo”. Sabe aquela
dor física? Passou. A dor emocional foi capaz de superá-la. Quando ouvi o
chorinho, fraco e angustiante de meu bebê, a paz retornou. Mas começou um novo
processo de sofrimento: ele foi direto para a incubadora, roxinho e fraco.
Fiquei 20h sem vê-lo, para mim, uma eternidade. Quando o vi, me desesperei. O
coração de mãe ficou em pedaços ao vê-lo naquela situação.
Mas suportei. Meu bebê é forte. Ele saiu daquela situação
que aconteceu por NEGLIGÊNCIA MÉDICA. Esse é apenas o meu relato, mas tem
muitas mães na mesma situação em Paulo Afonso. Eu tive o meu presente e quem
perde?
Sou
Michele, meu bebê nasceu no dia 11 de novembro de 2017
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