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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

“ACHADO,” ajuda a contar EPISÓDIO DA NAVEGAÇÃO no RIO SÃO FRANCISCO

Um fragmento do passado emergiu das águas do São Francisco como uma lembrança palpável da era da navegação no rio, sua importância e dos dramas humanos que marcaram sua história: um fuzil Mauser, modelo 1908, encontrado nos escombros do navio a vapor Antonio Olyntho, naufragado em março de 1926, próximo a Ilha da Assunção, em Cabrobó.

Semi-carcomido ao longo de quase 90 anos de submersão e repleto de uma crosta, formada por sedimentos, o fuzil mantém relativamente bem preservados o mecanismo de ferrolho, a coronha com o detalhe circular no lado direito, parte da haste de limpeza, na parte inferior do cano, e o guarda-mato. Uma relíquia sem dúvida, mas como arma, inutilizada.

O autor do achado foi o mecânico e construtor de embarcações Sivaldo Manoel de Sá, morador de Ibó, município de Abaré (BA). Ele encontrou o fuzil praticamente por acaso, logo depois de realizar a manutenção do motor de uma lancha, em companhia de pescadores que fazem pesca com arpão. Findo o serviço, eles decidiram conferir os escombros do navio – cuja presença naquele ponto do rio é de conhecimento da população local há muitos anos.

De acordo com Sivaldo, devido à baixa das águas do Rio São Francisco uma das escotilhas do navio está a cerca de dois metros de profundidade, mas a parte inferior do casco encontra-se a oito metros. Segundo ele, a correnteza é forte para o mergulho prolongado sem auxílio de equipamentos.

HISTÓRIA – A arma encontrada era um fuzil de repetição (ou rifle) Mauser calibre 7x57mm era arma comum das Polícias Militares do princípio do século XX. Também conhecido como F.O (fuzil ordinário) podia ser carregado com pente-carregador (cinco cartuchos). Media 1,257 metro e pesava 3,796 kg.

Curioso sobre a história do navio e disposto a repassar o fuzil a um museu, ou entidade voltada a preservação de bens históricos, Sivaldo procurou a Fundação Regional Museu do São Francisco em Juazeiro, no dia 05. “Eu poderia pendurar ele na minha casa, mas creio que ficaria mais importante para um museu, porque é uma peça de muitos anos”, explicou. “Um fato que ocorreu há tantos anos não pode passar despercebido pelos dias de hoje. Se uma história dessas viesse à tona seria importante para muita gente que tem interesse em saber. Eu mesmo tentei pesquisar e as informações que encontrei são contrárias”, afirmou.

VAPOR – Do Antonio Olyntho, que começou a operar antes de 1895, não restaram fotos conhecidas, mas sabe-se que o vapor tipo gaiola tinha 25 metros de comprimento e 0,60m de calado (profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação, em relação à linha d’água – superfície da água) o mesmo do Saldanha Marinho, hoje monumento histórico em Juazeiro.Em 1903, menos de um ano após a liquidação forçada da Empresa Viação do Brasil, o Antonio Olyntho foi leiloado com os demais vapores e arrematado pelo governo do Estado da Bahia. O governo organizou então a Empresa Viação do São Francisco, de acordo com o livro “Navegação do Rio São Francisco”, de Fernando da Matta Machado.

O próprio Sivaldo contou ter tomado conhecimento que havia nada menos que 60 soldados no Antonio Olyntho. “Pelo que pesquisei na internet não consta nada. O que eu soube das pessoas mais velhas é que essa embarcação afundou em 1926 e tinha soldados que foram para Barra do Tarrachil para conter uma revolta. Estavam voltando, o rio estava muito cheio e a embarcação afundou na subida da cachoeira. É o que os mais velhos contam lá em Ibó”, disse. “Meu tio fala que morreram 16 pessoas, inclusive na Ilha da Várzea foram sepultados dois”, contou.

Sobre outras incursões aos escombros do Antonio Olyntho, o construtor disse ter tomado conhecimento que há cerca de trinta anos, prepostos da Marinha teriam retirado porcelanas e outros materiais do barco.

MISTÉRIO – Passados 89 anos, as informações sobre o naufrágio do Antonio Olyntho continuam uma página misteriosa da navegação no Velho Chico. Conta o historiador Walter Dourado, no livro “Pequena História da Navegação no Rio São Francisco”, de 1973, que o incidente aconteceu por volta das 10h da manhã do dia 07 de março de 1926, um domingo. O navio a vapor naufragou na localidade então conhecida como Cachoeira do Pambu, próximo a Ilha da Assunção, quando retornava de Belém do São Francisco.

Segundo o historiador, nove pessoas morreram: seis tripulantes (chefe de máquinas, um marinheiro, o contramestre, a zeladora, um taifeiro, um foguista) e três passageiros, incluindo entre estes, dois soldados da Polícia Militar da Bahia que retornaram de um confronto com integrantes da Coluna Prestes – ou seja, é possível que o fuzil tenha pertencido a um dos dois. O comandante do navio chamava-se João de Deus da Rocha Alves, conhecido como Pombinho.

Da imprensa da época, o jornal O Pharol, edição de 20 de março, informa laconicamente, com base em telegrama do Recife, o naufrágio do Olyntho “em viagem no baixo S. Francisco, morrendo seis tripulantes e dois passageiros, por motivo de explosão na caldeira do referido vapor”.


SOBREVIVENTE – Sivaldo entregou o fuzil para a diretora do Museu Regional do São Francisco, Rosy Costa, que considerou “imensurável” o valor do achado. “Uma peça que está submersa há 89 anos é de um valor inestimável. Para o Museu, que tem como carro chefe da memória, o Rio São Francisco é como resgatar um pedaço da sua história que estava afogada”, afirmou Rosy Costa. Sobre a exposição da peça, ela informou que conversará com museólogas da capital para obter mais informações sobre a maneira adequada de apresentar o fuzil, após ele ter permanecido tanto tempo embaixo da água.

Logo em seguida a chegada de Sivaldo ao Museu, na quinta-feira da semana passada (05), o ex-piloto fluvial benedito Lima, 80 anos completados no último mês de setembro, residente no Alagadiço, em Juazeiro, informado por Rosy do achado, foi ao museu conferir a relíquia e compartilhar histórias sobre os tempos da navegação. “Isso é um achado histórico”, disse, ao ver a arma.Benedito não é apenas um ex-navegante do Velho Chico: o pai dele, Manoel Lima Sobrinho, trabalhou como prático (timoneiro ou piloto) em navegação e estava no Antonio Olyntho na ocasião da tragédia, contou Benedito. Manoel conseguiu nadar e agarrar-se na vegetação as margens do rio. Faleceu em 1943 e está sepultado em Carnaíba, distrito de Juazeiro.Do que ouviu da mãe e da avó, Benedito contou que o navio Antonio Olyntho emproou por causa do peso da lenha que transportava, entrando numa “panela” ou “corrupios” (redemoinhos), afundando naquele trecho do Velho Chico, justamente perto da Cachoeira do Pambu.


“O negócio lá era tão forte que trouxeram um barco da Marinha, porque remo ou vela não aguentava”, explicou Benedito, sobre a correnteza do rio e os trabalhos da Marinha e do Governo da Bahia para esclarecer o acidente e eventualmente, recuperar pertences do navio. “Tudo o que o senhor está me dizendo aqui, comprova com o que o meu tio me disse”, confirmou Sivaldo.                                       
Fonte:(t)(f)  Jean Corrêa
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