Lama não deve
chegar ao Rio São Francisco, aponta novo boletim do Serviço Geológico. Já a
Fundaj diz que o Velho Chico pode ser sim atingido por água contaminada com
rejeitos da barragem de Brumadinho.
O
desastre do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) pode atingir a
bacia do Rio São Francisco, segundo pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco
(Fundaj).
Um estudo
sobre como diminuir no Nordeste o impacto da água contaminada pelos rejeitos é
desenvolvido por essa instituição federal de pesquisa científica, em parceria
com universidades brasileiras e Universidade de Toulouse, na França.
De acordo
com Neison Freire, pesquisador com pós-doutorado em risco de desastres
naturais, os metais pesados presentes na lama devem migrar do leito do Rio
Paraopeba para o Rio São Francisco, mesmo com o sacrifício da Usina
Hidrelétrica Retiro Baixo, sinalizado pelo governo federal.
Para o
estudo, são usadas imagens captadas pelo satélite francês Sentinel, que
consegue detectar objetos de, no mínimo, cinco metros de comprimento. O
equipamento também permite a visualização da área atingida a cada cinco dias.
LAMA NÃO DEVE CHEGAR AO RIO SÃO FRANCISCO,
APONTA NOVO BOLETIM DO SERVIÇO GEOLÓGICO
Em
um boletim divulgado na noite da segunda-feira (28), o Serviço Geológico do
Brasil afirma que não há possibilidade de a lama de rejeitos da Vale chegar à
Usina de Três Marias, no Rio São Francisco. Para a Fundaj, no entanto, o
problema não para por aí.
Neison
explica que, com a desativação das turbinas de Retiro Baixo, a lama pode, sim,
ficar restrita ao reservatório, mas, em algum momento, a barragem precisará
verter.
“A lama
que chegar em Retiro Baixo vai sedimentar, mas a barragem precisa sangrar para
que ela não rompa. Daí, não temos como impedir que a água do Rio Paraopeba
chegue no São Francisco, pela Usina de Três Marias. A contaminação afeta os
três principais usos da água: o consumo humano, o abastecimento animal e a
irrigação da agricultura”, explica o pesquisador.
Ao todo, o
Rio São Francisco passa por 506 municípios durante seu curso, incluindo
Pernambuco e os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe. Segundo Neison, a água
contaminada pode chegar até a foz do São Francisco, na cidade alagoana de
Piaçabuçu. Petrolina, no Sertão pernambucano, e a cidade baiana de Juazeiro,
seriam afetadas, segundo o pesquisador.
Em boletim
divulgado nesta terça (29), o Serviço Geológico do Brasil e Agência Nacional de
Águas (ANA) informam que a lama está se deslocando em velocidade menos que a
velocidade normal da água e que a previsão é de que ela chegue ao Rio Paraopeba
na quarta-feira (30). Apesar disso, por causa da dispersão dos materiais, não é
possível prever o dia em que a água chegaria à Usina Hidrelétrica de Retiro
Baixo.
A
Fundaj realiza um trabalho de busca de soluções para o tratamento da água
contaminada pelos rejeitos. “Não podemos ter incertezas falando do Rio São
Francisco, que afeta desde o grande produtor ao pescador, que está em grande
situação de vulnerabilidade social. A contaminação vai acontecer, mas
precisamos pensar em metodologias para lidar com isso. Um filtro para metais
pesados nas estações de captação de água dos municípios é um exemplo”, diz
Neison.
O estudo é
realizado pela Fundaj, em Pernambuco, em conjunto com a Universidade Federal de
Campina Grande, na Paraíba; a Universidade Federal de Alagoas e a Universidade
de Toulouse.
“Não é que
a lama vá chegar, mas contaminantes devem ser distribuídos nos recursos
hídricos. O desastre não acabou, ele está em curso”, afirma o pesquisador.
Com o
satélite usado pelos pesquisadores, além das imagens, é possível detectar
regiões térmicas e outros aspectos que o olho humano não consegue ver.
“A mancha
da lama é uma, mas a contaminação vai muito além. É na vegetação, nos corpos
hídricos e no solo. Agora, o momento é de emergência, de ajudar as vítimas.
Virão tempos de acomodação dos resíduos e depois, contaminação. Os metais
pesados afetam muito os animais mamíferos. Humanos podem, por exemplo,
desenvolver diversos tipos de câncer por causa dessa ingestão”, declara.
Os
pesquisadores aguardam laudos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais e
do Ministério de Minas e Energia para calcular de que forma os materiais
contaminantes podem afetar a bacia do Rio São Francisco.
“É preciso
fazer estimativas para adotar metodologias. Precisamos saber a velocidade da
contaminação, o volume do material e até mesmo quais materiais estão presentes
nessa lama”, afirma.
RESPOSTAS DA CHESF
Em
entrevista à imprensa pernambucana, na segunda-feira (28), o presidente da
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Fábio Alves, afirmou que a
chance da lama chegar no Vale do São Francisco seria nula. Questionada pelo G1,
a empresa disse que se pronunciaria por meio de nota.
O
documento diz que a Chesf “vem monitorando, com toda atenção, a propagação dos
rejeitos da barragem de Brumadinho” e que a diretoria “está em contato direto
com as entidades competentes de Minas Gerais e do Governo Federal, inclusive
com a Agência Nacional de Águas (ANA)”.
Ainda no
texto, a Chesf afirma que “as providências estão sendo adotadas para minimizar
os impactos no Rio São Francisco”. A companhia diz, também, que informações
adicionais sobre o assuntos podem ser repassadas pela Eletrobrás. A reportagem
entrou em contato com a Eletrobrás e aguarda resposta.
Por meio
de nota, a ANA informa que “consolida anualmente o Relatório de Segurança de
Barragens (RSB), a partir de informações disponibilizadas pelos órgãos
responsáveis pela fiscalização de barragens”. No caso da barragem de
Brumadinho, o responsável é a Agência Nacional de Mineração (ANM), que, em
2017, não a classificou como crítica.
Previsão anterior era de que rejeitos chegassem ao rio São Francisco entre os dias 15 e 20 de fevereiro. Rompimento de barragem em Brumadinho ocorreu na última sexta. Foto: Divulgação. |
OZILDO ALVES
Nenhum comentário:
Postar um comentário