O médium afirmou que não tem responsabilidade pelo
que faz durante os atendimentos espirituais; ele disse que "as
orientações são repassadas pelo espírito"
AINDA
EM DEPOIMENTO, JOÃO DE DEUS NEGOU TER MOLESTADO PACIENTES E SE DISSE VÍTIMA DE
UM SUPOSTO ESQUEMA PARA DESTRUÍ-LO
João Teixeira de Farias, conhecido como João
de Deus, negou nesta semana em depoimento à Polícia Civil ter
abusado sexualmente de mulheres durante seus atendimentos na Casa Dom Inácio de
Loyola, espécie de hospital espiritual que ele fundou em Abadiânia (GO). No
depoimento, o médium responsabilizou "Deus" e
"o espírito" pelos procedimentos realizados
no centro espiritual. Com informações do jornal O Globo.
O médium foi questionado pela polícia sobre três
supostas vítimas. Disse que o relato de uma delas não
é verdadeiro e que nem sequer se recorda das outras duas.
Veja a versão dada por ele à polícia sobre
atendimentos, denúncias de abuso sexual e ocultação de patrimônio.
CASA DOM INÁCIO
João de Deus afirma que a maioria dos
atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola ocorrem em ambientes
coletivos. Disse que os frequentadores são dispostos numa sala.
Ele fica em uma segunda, a Sala do Equilíbrio, que
comporta cerca de 200 pessoas sentadas.
TRATAMENTOS
Os pacientes que procuram a Casa Dom Inácio de
Loyola recebem atendimento espiritual, mas, segundo João de Deus disse em seu
depoimento, eles são orientados a não interromper os tratamentos convencionais,
com médicos. São prescritos "medicamentos" fabricados no próprio
centro espírita.
"Os frequentadores não sofrem coação para
adquirir os remédios e também existe auxílio a frequentadores sem condições
financeiras", afirmou.
O médium afirmou em depoimento que não
tem responsabilidadepelo que faz durante os atendimentos
espirituais. Ele disse que "as orientações são repassadas
pelo espírito".
João de Deus sustenta que quem faz as
cirurgias é Deus. Alega que já usou a técnica de incisão, mas não mais. Nunca
ninguém morreu, segundo ele, em decorrência dos atendimentos.
INDIVIDUALIZADOS
João de Deus diz que os atendimentos individualizados ocorrem
em uma sala, mas são exceção. Alega que a porta é transparente e que nunca
a trancou, mas que alguns pacientes já o fizeram.
Há também duas janelas e, segundo o médium, uma
sempre fica aberta. Por isso, diz ele, é possível ver de fora o que ocorre do
lado de dentro. Ele diz que atendimentos individualizados são feitos a
critério dos pacientes.
VIOLAÇÕES
O médium negou ter molestado pacientes.
Ele foi questionado sobre os casos de três supostas vítimas. Um deles,
considerado o principal pela polícia, é o de uma mulher que sustenta ter sido
levada para atendimento individualizado e massageada na região sob o ventre.
Ela teria notado que o médium estava com o pênis de fora.
João de Deus disse se
lembrar do atendimento, em 24 de outubro, e negou o abuso.
Contou que a suposta vítima é administradora de um centro espírita que ele
ajudou e que ela pretende "assumir". Afirmou que a mulher tem nível
superior, "sabe o que está alegando" e cobrou exame que prove o
ocorrido.
Os investigadores relataram denúncias de outras
duas mulheres, de casos mais antigos, mas o médium disse não se lembrar delas.
MENORES DE 18 ANOS
João de Deus negou que haja em seu centro de
cirurgias espirituais abuso sexual de crianças e adolescentes.
Dalva Teixeira, filha dele, hoje com 49 anos,
disse ter sido vítima do pai quando tinha entre 10 e 14
anos. Ele nega – a defesa cita vídeo de 2017 em que ela voltou
atrás.
AMEAÇAS
A Promotoria e a polícia receberam centenas de
relatos de abusos sexuais. João de Deus atribuiu a grande quantidade de
denúncias nas últimas semanas a um suposto esquema para destruí-lo.
Ele diz ter recebido telefonema em
sua casa, sem recordar a data, e que um homem o teria ameaçado: "Eu tenho
50 pessoas para acabar com você. Se você colocar 100, eu coloco 200. Se você
aumentar isso, eu coloco mil. Eu vou acabar com você!", teria dito o
interlocutor.
O médium afirmou que o telefonema foi feito para
o celular de um frequentador da casa espiritual, do qual não se recorda o nome.
Também disse, sem dar detalhes, que uma mulher do Rio lhe disse ter recebido
proposta de TV para acabar com ele.
CONTA BANCÁRIA
O Ministério Público diz que a movimentação de R$
35 milhões em contas atribuídas ao médium, após o
escândalo vir à tona, levantaram suspeitas de ocultação de patrimônio e plano
de fuga.
A defesa de
João de Deus nega qualquer resgate ou movimentação.
Ele disse que "apenas pagou alguns funcionários com cheques
nominais". "Não tem esse negócio de milhões", declarou.
DIÁRIO DO NORDESTE
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