O magnata Donald Trump, sem
nenhuma experiência política, venceu a eleição presidencial dos Estados Unidos,
superando a democrata Hillary Clinton, um terremoto político que leva o país e
o mundo a um período de incerteza, que já provocou uma queda brutal nos
mercados.
"Serei o presidente de todos os americanos", anunciou
Trump exultante no discurso da vitória, ao lado da mulher, Melania Trump, e de
seus filhos.
"Isto foi muito duro", completou, ao agradecer à
família.
"Chegou o momento de os Estados Unidos fecharem as feridas
da divisão, devemos nos unir: aos republicanos, democratas e independentes
desta nação afirmo que é hora de união", disse Trump.
Em uma mensagem à comunidade internacional, que acompanhou com
apreensão a eleição americana, Trump disse: "Vamos tratar a todos com
justiça. Todos os povos e todas as nações. Buscaremos terreno comum e não
hostilidade; associação e não conflito".
O presidente eleito americano afirmou que a adversária, Hillary
Clinton, telefonou para felicitá-lo por sua vitória. Trump disse que os Estados
Unidos têm uma "dívida de gratidão" com Clinton.
Pouco antes, o diretor de campanha de Hillary, John Podesta,
anunciou que a ex-secretária de Estado não discursaria porque até o momento
considerava a eleição indefinida.
Alguns minutos depois, no entanto, a imprensa revelou que ela
havia ligado a Trump para reconhecer a derrota.
Um a um, após meses de uma campanha repleta de insultos e
ataques, o bilionário de 70 anos, conhecido por sua rede de hotéis cassinos,
venceu nos estados-chave da Flórida, Pensilvânia e Ohio, que optaram pelo
polêmico candidato republicano, acusado de ser xenófobo e sexista, para suceder
o democrata Barack Obama.
Os mercados financeiros, que tinham uma clara preferência pela
candidata democrata Hillary Clinton, fecharam em forte queda na Ásia e operavam
em baixa na Europa.
Hillary Clinton, que sonhava em se tornar a primeira mulher
presidente dos Estados Unidos aos 69 anos, também venceu em estados-chave, como
Virginia e Nevada, além dos já esperados Califórnia e Nova York.
Mas isto não foi suficiente. Para garantir a presidência, o
candidato precisava alcançar o número mágico de 270 votos no colégio eleitoral,
obtidos, na realidade, em 51 mini eleições em cada estado e na capital,
Washington.
"Estou devastada, perdi a fé em meus compatriotas, não sei
o que nos espera no futuro, me sinto perdida", afirmou Kate Kalmyka, uma
advogada de 36 anos que acompanhava, indignada, os resultados em um bar de Nova
York.
DIVISÕES
Poucas vezes nas últimas décadas uma eleição presidencial americana
foi disputada por dois candidatos tão antagônicos, com visões tão distintas. A
mensagem contra o "establishment" representado por Hillary Clinton e
seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, funcionou para o republicano.
Trump soube captar o mal-estar profundo com as instituições e os
políticos tradicionais.
"Votei em Trump e contra o sistema. Trump diz muitas
bobagens porque ele não é um político, não está adestrado. Mas o mais
importante para o país é o comércio, as relações internacionais e a economia. E
as pessoas estão quebradas, precisam de uma mudança", disse Abteen Daziri,
de 38 anos e de origem iraniana.
Depois de 693 dias de drama, insultos e escândalos, a campanha
deixou uma população profundamente dividida e exausta. De acordo com uma pesquisa
recente, 82% dos americanos se declararam cansados.
Os dois candidatos eram como água e azeite: a advogada Hilarry
Clinton é uma figura política há 25 anos, detestada por metade dos americanos,
que duvidam de sua honestidade. Esposa do ex-presidente Bill Clinton
(1993-2001), foi primeira-dama, senadora e depois secretária de Estado do
presidente Barack Obama.
Trump também soube interpretar como ninguém os temores de uma
classe média branca frustrada em um mundo em mutação.
Com seu discurso anti-imigração, impulsivo e corrosivo,
denunciado por várias mulheres que afirmaram ter sido apalpadas por ele, Trump
marcou para sempre um estilo de fazer campanha política. A liderança do Partido
Republicano praticamente deu as costas a ele.
A trajetória de Hillary Clinton como candidata democrata rumo à
Casa Branca foi ofuscada pela investigação do FBI contra ela pelos e-mails
enviados a partir de um servidor privado no momento em que era secretária de
Estado.
O medo de uma vitória de Trump, que chamou os mexicanos de
"estupradores" e "narcotraficantes" e que prometeu
construir um muro nos 3.200 km de fronteira com o México, além de deportar 11
milhões de pessoas sem documentos no país, mobilizou muitos latinos, a
principal minoria do país.
Mas a mobilização não teve o efeito esperado por muitos, já que
o candidato republicano venceu na Flórida, que tem uma grande comunidade
latina, em um golpe para as aspirações de Hillary Clinton.
Os desafios são enormes e atualmente existe uma grande incerteza
no cenário político e diplomático, como as relações com a Rússia ou o
envolvimento dos Estados Unidos no conflito da Síria. Na economia, ele terá que
lidar com o Tratado Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP) ou o TPP.
Outra incógnita diz respeito à normalização das relações com
Cuba, iniciada pelo democrata Barack Obama.
MAIORIA
NO CONGRESSO
Os republicanos conquistaram a maioria no Senado nas eleições de
terça-feira e continuarão controlando o conjunto do Congresso americano, algo
muito importante para o presidente eleito Donald Trump.
Controlando a Casa Branca e o poder Legislativo, os republicanos
terão a capacidade de anular as reformas do presidente Barack Obama e
principalmente seu controverso programa de seguro-saúde batizado de
"Obamacare".
O controle do Senado, que se soma ao da Câmara de
Representantes, também lhes permitirá controlar o processo indicação dos
funcionários governamentais de mais alto escalão e dos juízes da Suprema Corte.
O Senado, um terço do qual foi renovado na terça-feira (34
membros), havia oscilado para o campo republicano em 2014, limitando
consideravelmente a margem de manobra do presidente Obama.
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