Abaixo-assinado, encontrado nos pertences das vítimas,
reclamava da forma com que motorista dirigia
SÃO SEBASTIÃO - Um
abaixo-assinado que pedia providências contra um motorista da empresa de
fretados União Litoral foi encontrada entre os pertences dos estudantes que sofreram
o acidente na Rodovia Mogi-Bertioga, que matou 18 pessoas na noite de
quarta-feira, 8. O documento não tem assinaturas e também não identifica o nome
do condutor que motivou a reclamação.
A
Polícia Civil afirmou que ainda é prematuro fazer suposições sobre o fato. O
documento, endereçado à secretária de Educação de São Sebastião, Maria Zeneide
Nunes da Silva Moraes, relata supostas "manobras ilegais" realizadas
por um condutor "em tempo chuvoso e com neblina".
"Houve
algumas atitudes do respectivo funcionário que coloca em risco a integridade
física dos estudantes que utilizam o transporte", relata trecho do texto
do abaixo-assinado.
Na
quinta-feira, 9, pais de vítimas afirmavam que os filhos costumavam reclamar do
condutor. A policia, porém, afirmou que ainda é prematuro relacionar as
críticas ao motorista, que também morreu no acidente.
Nesta
sexta-feira, 10, a estudante Aline de Jesus, de 20 anos, que estava no ônibus e
teve apenas alguns ferimentos foi à delegacia e confirmou que o abaixo-assinado
era para reclamar do motorista Antônio Carlos da Silva, de 38 anos, que dirigia
o veículo no momento do acidente. Segundo ela, os estudantes reclamavam que ele
dirigia em alta velocidade e era imprudente.
Aline
teve alta médica no início da tarde desta sexta-feira e foi à delegacia para
buscar seus pertences. Bastante abalada, ela disse que estava dormindo e não
soube dizer se houve alguma discussão entre os passageiros e o motorista antes
do acidente. "Eu estava dormindo e acordei com a gritaria. Uma amiga
gritou para que eu colocasse o cinto e eu consegui colocá-lo. Foi o que me
salvou", disse.
Ela
relatou que o motorista havia retomado há uma semana para a linha. "Ele
corria sempre, queria sair cedo, chegar cedo". Por conta disso, os
estudantes decidiram organizar o abaixo-assinado para pedir mudanças.
Aline
não presenciou uma suposta discussão entre estudante e o condutor.
"Cheguei no ônibus só as 22h, não sei se aconteceu algo antes". Ela
relatou que estava dormindo quando escutou os amigos gritando. "Eu
coloquei o cinto e pedi para a minha amiga Carol (que faleceu) mudar de lugar,
porque o dela não estava fechando. O ônibus tombou e depois não vi mais
nada".
Aline
disse que foi socorrida inicialmente por estudantes que estavam em outro ônibus
"o pessoal disse que eu sai andando, mas não lembro". Assim como
Aline, outro estudante que foi até a delegacia de Bertioga para tentar
recuperar o pertence dos amigos confirmou que o motorista era uma pessoa
nervosa e que os passageiros tinham receito de andar no veículo com ele ao
volante.
Investigação. O delegado titular
de Bertioga, Maurício Barbosa Júnior, afirmou que quer começar a agendar a
coleta dos depoimentos dos sobreviventes a partir de segunda-feira, 13. "A
relação das vítimas só chegou hoje [sexta-feira, 10]. Preciso fazer o contato
com os sobreviventes para marcar um dia para ouvi-los".
Barbosa
Júnior disse que irá falar com os feridos em São Sebastião. "Não vou pegar
depoimentos nos hospitais".
Perícia
realizada pelo Instituto de Criminalística (IC) avaliará as condições do
veículo, como freio, pneus e direção, além do local do crime. "Não existe
um prazo definido, mas normalmente em 30 dias está concluído", disse o
delegado.
Ainda
de acordo com Barbosa Júnior, as informações do tacógrafo vão auxiliar a
polícia a montar o quebra-cabeças sobre o acidente, já que o equipamento pode
dar informações sobre o comportamento do veículo desde quando ele deixou a
universidade.
O
depoimento dos sobreviventes também auxiliará a identificar se houve discussão
ou alertas do motorista para os passageiros. A polícia afirmou que não descarta
que tenha ocorrido uma suposta confusão entre o condutor e os passageiros.
Fornecido por Estadão
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