BRASÍLIA — O
ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava-Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), autorizou a inclusão de trechos da delação do senador
Delcídio Amaral (sem partido-MS) no inquérito que investiga a quadrilha que
desviava recursos na Petrobras. Nesses trechos, há citações à presidente Dilma
Rousseff, ao vice Michel Temer, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a
alguns parlamentares.
A pedido da Procuradoria-Geral da
República (PGR), foram juntados ao inquérito os termos de colaboração números
2, 13, 19, 20 e 21 de Delcídio ao inquérito 3989, o maior de todos da
Lava-Jato, com 39 réus. O termo número 2 é o que contém mais citações e trata,
entre outras coisas, da possível ingerência de Dilma Rousseff na nomeação de
Nestor Cerveró para uma diretoria na BR Distritbuidora. Cerveró, que antes já
tinha sido diretor da Área Internacional da Petrobras, também é investigado e
firmou um acordo de delação premiada para colaborar com as investigações. Dilma
nega ter participado da nomeação dele, mas o senador mencionou telefonemas dela
sobre o assunto.
Delcídio relata que estava em
Salvador quando recebeu uma ligação de Dilma, então ministra da Casa Civil,
questionando se Cerveró seria indicado ou não para a Diretoria Financeira da BR
Distribuidora. Delcídio respondeu não saber e, algumas horas depois, Dilma lhe
retornou para informar que ele seria realmente indicado. O senador diz
acreditar que foi um prêmio de consolação pela atuação de Cerveró no caso da
sonda Vitória 10.000. O contrato da sonda ficou com o grupo Schahin, que, com
isso, considerou quitado um empréstimo feito pelo PT. O empréstimo seria usado
para pagar o empresário Ronan Maria Pinto, que estaria chantageando o partido
com informações relacionadas à morte do prefeito de Santo André Celso Daniel,
assassinado em 2002.
Também no termo número 2, Delcídio
relata cargos ocupados por pessoas indicadas pelo PMDB. Segundo ele, após o
escândalo do mensalão, o partido aproveitou a fragilidade do governo Lula para
fazer algumas nomeações, inclusive assumindo indicações feitas por outras
siglas. Questionado sobre o que diretores de estatais podem fazer pelos
partidos, Delcídio disse que, além do peso político, eles "atendem as
demandas" das legendas e que "se trata não apenas de influência
política, mas também de 'doações' e 'outros objetivos não republicanos'".
No termo número 20, Delcídio relata
a instalação da CPI do Cachoeira em 2012, incentivada por Lula para atingir o
governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo. Mas, depois, a avaliação foi de
que os trabalhos da comissão poderiam pôr em cheque o financiamento da campanha
de 2010, especialmente a do PT, uma vez que envolveu também as empresas de Adir
Assad. Assim, a própria base governista articulou para acabar com a CPI.
"José de Filippi era o tesoureiro da campanha da presidente Dilma Roussef à
época e era quem orientava as empresas doadoras no sentido de atender
eventualmente a campanha presidencial ou as demais campanhas do PT e aliados a
utilizarem as empresas de Adir Assad", diz trecho do termo de colaboração.
No termo número 13, Delcídio diz
que Temer era "muito ligado" a João Augusto Henriques, lobista preso
em setembro do ano passado na 19ª fase da Operação Lava-Jato. Henriques é
suspeito de operar propina para o PMDB. Ele foi diretor na BR entre 1998 e 2000
e uma de suas atribuições era a compra de etanol, o que levava a uma
"relação estreita" com usineiros. Depois, "em 2007 ou
2008", segundo Delcídio, Henriques foi cotado para ser diretor da Área
Internacional da Petrobras "com o apadrinhamento de Michel Temer e da bancada
do PMDB na Câmara".
A então ministra Dilma Rousseff
vetou o nome, conforme a delação. O diretor acabou sendo Jorge Zelada, também
ligado ao PMDB e preso na Lava-Jato suspeito de operar o esquema de propina na
Petrobras. Quando a delação de Delcídio se tornou pública, em março, a
assessoria de imprensa de Temer informou que ele nunca foi padrinho de
Henriques e que a indicação de seu nome foi feita pela bancada do PMDB na
Câmara, assim como a de Zelada.
"No que tange ao desvio de
verbas em favor do PMDB, o possível esquema de financiamento ilícito desse e de
outros partidos constitui um dos objetos do inquérito nº 3989/STF. Desta feita,
por ora, basta a juntada de cópia do termo a esse inquérito", escreveu o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na petição em que pede a inclusão
desse trecho da delação de Delcídio.
No termo número 19, o senador
relata irregularidades na aquisição de sondas e plataformas da gestão de Joel
Renó, quando ele foi diretor da Petrobras, entre 1999 e 2001, durante o governo
Fernando Henrique Cardoso. No termo número 21, apenas diz que não tinha nada de
relevante a acrescentar ao que já tinha relatado.
MSN - NOTÍCIAS
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