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quarta-feira, 20 de abril de 2016

A INGRATIDÃO DE MARIO NEGROMONTE JUNIOR..

O deputado federal Mário Negromonte Júnior, do Partido Progressista da Bahia, absteve-se de votar a favor ou contra o impeachment de Dilma Rousseff. Uma gratidão, nada mais do que isto.

Quando o pai Mário Negromonte era ministro das Cidades, a presidente Dilma o sustentou no cargo por algum tempo contra a vontade do ex-presidente Lula da Silva.

Naquela quadra do governo, Lula da Silva pensava ser Deus – ainda hoje ele pensa, mas com menor intensidade, tendo em vista as sucessivas derrotas morais por que vem passando – e achava-se no direito de ditar normas. Ainda não se havia recolhido à sua insignificância de enganador do povo e não tinha caído em desgraça.

Nos bastidores de Brasília não era nenhuma novidade que o Ministério das Cidades era tocado por Gilberto Carvalho, à época ministro da Secretaria Geral da Presidência da República e amigo confidente de Lula, espécie de espião lulista no governo Dilma.

Formalmente Negromonte estava investido no cargo de ministro, mas na prática nada decidia. Pensava ser ministro e Dilma Rousseff fingia que ele era ministro, mas politicamente ficou muito fraco, insustentável. Acabou caindo. Lula da Silva não queria Mário Negromonte. Nunca quis.

Numa noite de janeiro de 2012 estiveram na casa de Lula, em São Bernardo do Campo, a presidente Dilma e o então governador da Bahia, Jaques Wagner, fiador de Negromonte, que suas orelhas devem ter ardido muito. Naquela noite seu destino estava selado. A queda era uma questão de tempo, não mais uma decisão de governo.

Todavia, por ocasião da saída, o governo publicou que Negromonte pediu demissão. Tudo lorota. A carta de demissão dele foi acertada, dias antes, em Salvador, com então governador Jaques Wagner e a presidente Dilma. Mais tarde, Wagner e Dilma viajaram juntos e obrigaram Negromonte a acertar os detalhes da entrega da carta quando ela retornasse de uma viagem a Cuba e Haiti, o que foi feito, tudo conforme o figurino.

É assim a praxe em qualquer governo. Politicamente, fica mais feio ser demitido do que pedir demissão. O que é o governo senão uma hipocrisia?

Na condição de nordestino e sertanejo das caatingas baianas de Curaçá e Chorrochó, torci muito para o então ministro Mário Negromonte dar certo. E torcia por uma razão muito simples: nosso sertão sempre foi abandonado porque lhe faltava peso político junto aos governos da República. E aí apareceu no horizonte uma situação um pouco diferente: Negromonte ministro, a mulher Ena Vilma prefeita de um município do sertão baiano, o filho Mário Negromonte Júnior na época deputado estadual da Bahia.

Isto podia contar em benefício da região como um todo, independentemente de política partidária. Mas o homem era pesado demais para o governo carregar. Acabou ficando pelo caminho.

Entretanto, nem tudo que parece eterno dura para sempre. Depois veio a glória. O então governador Jaques Wagner engendrou um plano para colocar Mário Negromonte na função de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia. Deu certo. Uma sinecura vitalícia, um manjar.

Mas sempre há um dia atrás do outro e uma noite no meio. Surgiram denúncias contra Mário Negromonte no bojo de uma delação premiada, que o colocou no centro de mais um escândalo de desvio de dinheiro público da Petrobras. Pior: mais tarde, o filho e deputado federal Mario Júnior também passou a frequentar as páginas policiais, igualmente suspeito de beneficiar-se de dinheiro ilícito.   

É prematuro colocar em ambos a pecha de desonestos. Tudo depende de investigação e provas, que ainda são muito frágeis. Nem tudo que parece é. Mas a situação é cavernosa. O pai Mário Negromonte deve seu cargo de conselheiro do Tribunal de Contas a Jaques Wagner e deve à presidente Dilma a nomeação para o Ministério das Cidades. Jaques Wagner hoje é um dos principais ministros de Dilma Rousseff. Ele garantiu, na ponta do lápis, os votos dos deputados federais baianos contra o impeachment. Vigiados pelo implacável olhar do eleitor, alguns votaram conscientemente, outros subservientemente. Mas votaram.

O deputado Mário Júnior absteve-se. Enalteceu Paulo Afonso e Glória, mas fez um papel que a grandeza política não ampara. E esqueceu a memória dos saudosos mestres Dr. Adauto Pereira de Souza e Dionísio Pereira.

Ficou em cima do muro da esperteza, com um pé na já fragilizada confiança do eleitor e outro no dever de gratidão à presidente Dilma e Jaques Wagner. Pode ser cobrado futuramente nas urnas, mas o sentimento de gratidão é nobre diante da fraqueza humana. Podia ter votado a favor, podia ter votado contra o impeachment. Não há demérito nenhum em obedecer à própria consciência.

Convenhamos, para um político jovem, que a Bahia lhe outorgou um mandato parlamentar e esperança, a abstenção não foi uma decisão sábia. 



Blog de Walter Araujo. 
ELOY NETTO

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