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quarta-feira, 3 de junho de 2015

SÃO JOÃO - IDEIA É DESTINAR MAIOR PARTE DA VERBA PÚBLICA “JUNINA” PARA ARTISTAS DA TERRA.

PROJETO DE 'COTAS' PARA FORROZEIROS DA BAHIA É CRIADO E DEVE SER VOTADO NA TERÇA Músicos locais entregaram pedido mês passado à Assembleia Legislativa. 

Forrozeiros da Bahia, entre eles Zelito Miranda e Del Feliz elaboraram um documento que foi entregue à Assembleia Legislativa para pedir a valorização de músicos e bandas baianas em festas juninas locais, além da conservação da tradição do São João.
A proposta apresentada por eles foi a criação de um Projeto de Lei que defina uma espécie de cotas para os forrozeiros do estado na hora da contratção de atrações para as festas juninas. O conteúdo do documento foi discutido por alguns artistas e e deputados em reunião no início de maio.
Segundo informações da Assembleia Legislativa, o projeto de lei já foi criado e deve ser aprovado em votação que será realizada na terça-feira, dia 9 de junho. O documento é fruto de um acordo entre os líderes da bancada do governo, Zé Neto (PT), e de oposição, Sandro Régis (DEM), com o apoio do presidente do legislativo, deputado Marcelo Nilo (PDT). Após aprovação por parte dos deputados, o projeto será enviado para sanção do governador Rui Costa.
"A maior festa da Bahia não é o carnaval, que ocorre só em Salvador. É o São João, que acontece nos 417 municípios. São mais de três milhões de turistas que circulam nessas cidades. Pessoas da Bahia e de outros estados. Esse é um projeto muito importante, pois precisamos priorizar as bandas do interior e da capital”, disse Marcelo Nilo em entrevista ao G1.
O presidente da Assembleia diz ainda que, apesar de o projeto ter sido criado e votado antes do São João, só deve ser possível colocá-lo em prática no próximo ano, já que muitas festas já estão com a grade de programação fechada.
Zelito Miranda (Foto: Divulgação)Forrozeiro baiano Zelito Miranda (Foto: Divulgação)
Pedido dos artistas
Para o forrozeiro Zelito Miranda, a iniciativa surgiu da necessidade de uma organização maior em relação à contratação de bandas baianas nos eventos juninos que têm verba pública.
"Foi uma coisa que nasceu de uma necessidade mesmo que nós estamos tendo de organizar o mercado porque a gente tem exemplos como o carnaval que tem várias associações, vários órgãos que organizam, que discutem, que conversam e normatizam. Nós percebemos, todos nós forrozeiros, que é o momento da gente discutir isso", disse.
Forrozeiro Del Feliz canta na abertura do Sarau du Brown, no Museu du Ritmo, em Salvador (Foto: Max Haack/Ag Haack)Forrozeiro Del Feliz(Foto: Max Haack/Ag Haack)
O forrozeiro Del Feliz explica que, para ele, o mais importante é a preservação da cultura das festas juninas tradicionais.
"Para mim e para o nordeste inteiro, o São João é a festa mais importante do ano. É inclusiva e vem perdendo muito na questão referência cultural. A ideia do projeto não é criar uma barreira, não é exclusão. A ideia é justamente não permitir a exclusão da festa. Cidades disputando as apresentações mais caras. Não se fala mais em quadrilhas, quebra-pote, grupo de forrozeiros, chega a ser antagônico, incompreensível ouvir que que uma prefeitura não tem dinheiro parar contratar forrozeiros porque já gastou R$ 500 mil com alguma atração", pontuou o músico.
Os forrozeiros tomaram como parâmetro o que já é feito em Pernambuco, explica Zelito Miranda. "Em papos informais, nós chegamos a uma experiência que existe já em Recife. A lei é que no período junino, que compreende de 1° de junho ao São Pedro, a gente crie um mecanismo para que 70% do capital investido no São João, São Pedro, Santo Antônio fique na Bahia com os artistas de forró da Bahia.  Eu acho que todo mundo vai sair ganhando nisso", afirmou o músico.
Mudanças
O São João é uma das maiores festas da Bahia e tem, em média, um investimento de R$ 20 milhões. A programação inclui Salvador e vários dos 417 municípios do estado. Esse investimento é feito, normalmente, pela Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) e pela BahiaTursa, Empresa de Turismo da Bahia, além das prefeituras locais e de patrocinadores.
Para Del Feliz, a chegada de festas privadas, com grandes atrações nacionais, de variados gêneros musicais, em cidades que têm um Sâo João de "rua" tradicional fomentou uma "disputa" entre as festas públicas e particulares há mais ou menos 15 anos. Normalmente, os eventos particulares são feitos à tarde e a programação invade a noite, o que "tira" o público das praças, onde a programação começa à noite. 
"Eu sinto falta do quebra-pote, da quadrilha, da tradição esquecida. O que mais identifica o São João é o forró. Hoje temos axé, pagode, arrocha, menos forró. Acho que a gente tem relação com todos os ritmos e essa diversidade enriquece. Não é justo excluir o verdadeiro representante dessa cultura em uma festa feita com o dinheiro público. Todos os grandes sertanejos hoje vêm fazer o São João na Bahia. Acabar com a tradição em detrimento de interesses financeiros ou políticos, isso é que não acho cabível", afirmou.
O músico destacou ainda que muitos artistas com uma carreira extensa enfrentam dificuldades para fechar shows no período junino. "Eu tô com a minha agenda tranquila. Com 15 shows, 90% na Bahia, no São João. Mas tem artista que tem 30 anos de carreira que não está com essa tranquilidade toda", disse. (g1).
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