“Porque de feitos tais, por mais que diga, mais me há de ficar ainda por dizer”. (Luís de Camões)
Em minha mocidade trabalhei no hoje desaparecido Bar Potiguar, em Chorrochó. Lá habituei-me a conviver com Pascoal Almeida Lima, que foi prefeito de Chorrochó no período de 31/01/1973 a 01/01/1977, eleito pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e amparado na estrutura político-eleitoral do líder Dorotheu Pacheco de Menezes.
Ele não frequentava o bar com regularidade. Passava por lá, de quando em vez, a caminho da Prefeitura, que ficava ao lado, geralmente para cumprimentar as pessoas, sempre ágil e apressado.
Pascoal carregou a administração de Chorrochó aos trancos e barrancos, conforme lhe permitiu a precariedade das rendas do município. Foi dele a iniciativa de construir a Biblioteca Pública Municipal na sede, que deixou de ser biblioteca e, menos ainda pública, nas gestões subsequentes, porque diluíram o descaso de tal forma que é difícil aquilatar qual delas foi mais negligente.
Pascoal abriu a janela e enxergou melhor o clarear da aurora. Outros vieram depois e ofuscaram o horizonte cultural de Chorrochó.
Tem-se notícia de que na administração de Sebastião Pereira da Silva (Baião) a pretensa biblioteca foi batizada com o nome de Adelino Alves. Estávamos no período de 1977-1983
Confesso um tanto ingênuo, utópico e sonhador. Quando em 2013, o ínclito Joaci Campos Lima, que sempre esteve em minha alta admiração, foi guinado à Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Chorrochó, achei que a situação da biblioteca municipal tomaria rumo definitivo. Certamente o então secretário se deparou com entraves, talvez legais, talvez político, talvez de prioridade.
Não passou daí a ideia, de modo que a construção do equipamento público não aconteceu ou, pelo menos, não tenho conhecimento que tenha acontecido. Se a biblioteca foi construída, esteve ou está em funcionamento, penitencio-me em razão de minha ignorância.
Registro um episódio curioso naquela primeira metade da década de 1970. Aqui o cronista se perde e se acha e vai buscar algumas lembranças, décadas atrás, quando a memória esburacada ainda permite essa façanha.
Pascoal chegou a me nomear auxiliar de ensino na sede, função que não cheguei a exercer, porque Dr. Antonio Pacheco de Menezes Filho cortou o mal pela raiz. E fez muito bem. Dr. Pacheco era diligente e cauteloso adjunto de promotor na então novel comarca de Chorrochó.
Nessa quadra do tempo, a jovem comarca de Chorrochó ainda sentia os reflexos das luzes capitaneadas por seu primeiro juiz Dr. Olinto Lopes Galvão Filho que, nas horas vagas, gostava de umas talagadas de conhaque. O diligente Oficial de Justiça Carlos Bispo Damasceno (grande amigo) se encarregava de providenciá-lo. Tudo bem discreto, com muito respeito e sem inconveniências.
Dr. Pacheco pediu a revogação do ato de nomeação, vislumbrando – parece – possível irregularidade, porque editado em período eleitoral. Eu não entendia patavina de contratações de servidores públicos.
Sou grato a ambos, in memoriam: a Pascoal, pela nomeação, que não se efetivou; e ao Dr. Pacheco, porque poupou os estudantes de Chorrochó deste reles quase-professor da rede municipal.
Político probo e experiente, Pascoal vinha de sucessivos mandatos de vereador que remontavam às primeiras legislaturas do município. Faleceu em 2011 com 85 anos de idade, salvo engano.
Pascoal era casado com D. Renilde Almeida Lima, grande figura humana, que exerceu discreto papel de primeira dama, enquanto ele, homem de temperamento irrequieto, defendia intransigentemente a causa e os valores de sua gente.
D. Renilde faleceu em junho de 2016.
As raízes de Pascoal ainda estão fincadas no município, o que é natural, tendo em vista sua longa e ininterrupta atividade política.
O neto Pascoal Almeida Lima Tercius (Tércio de Fafá), estrela que brilha com visível grandeza na constelação política de Chorrochó, em 2020, por exemplo, foi agraciado com 477 votos para vereador à Câmara Municipal.
Tercius já havia sido presidente da Edilidade, que exerceu com eficiência e dinamismo, ainda jovem, por volta de 34 anos. O pai também foi líder respeitável e vereador atuante, de sorte que Pascoal Tercius teve uma boa e eficiente escola política, o que lhe dá sustentáculo para sua carreira e lhe credencia para voos mais altos.
Mais do que a vereança, a presidência da Câmara foi um parâmetro para delinear o reconhecimento de sua liderança e percepção para prever horizontes promissores.
O fato é que Barra do Tarrachil tem se destacado como lastro de políticos que vêm construindo a história de Chorrochó e Pascoal faz parte desta história.
Post scriptum:
A foto de Pascoal Tercius, que considero herdeiro político do pai Fafá e do avô Pascoal, foi reproduzida de seu perfil no facebook.
Por Walter Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário