A jornalista e blogueira de 29 anos ficou conhecida em 2016, após ter acusado o pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PL-SP) de estupro. Dois anos depois, porém, o juiz Aimar Neres de Matos, da 4ª Vara Criminal de Brasília, arquivou o processo contra o parlamentar, acolhendo pedido do Ministério Público do Distrito Federal. O órgão defende que não era possível “vislumbrar elementos mínimos para a propositura de ação penal”.
O Ministério Público ainda denunciou Patrícia por falsa comunicação de crime e extorsão de Talma Bauer, então chefe do gabinete do parlamentar.
Em outra denúncia, Lélis também acusou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de ameaçá-la após troca de ofensas públicas em 2017. Na ocasião, ela afirma que ele a teria chamado de “otária” e ameaçado “acabar com a sua vida” caso a discussão continuasse.
No entanto, relatório da Polícia Civil do Distrito Federal de 2021 aponta que havia indícios de crime de denunciação caluniosa de Lélis contra o “zero três”. Na época da acusação, ela trabalhava no PSC, então sigla de Eduardo Bolsonaro, seu namorado no período. A procuradora-geral da República à época Raquel Dodge apresentou denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o parlamentar, e depois foi remetido à primeira instância.
Candidata em 2018, ex-petista e acusada de transfobia
Em 2018, Patricia Lélis chegou a ser candidata a deputada federal por São Paulo filiada ao Pros, mas não obteve o número mínimo de votos para conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados.
A jornalista também foi alvo de investigação dentro do PT pela sua expulsão da legenda por declarações transfóbicas em 2021. A decisão foi tomada após a jornalista publicar um vídeo nas redes sociais em que fala que uma mulher trans “mostrou seu pênis a outras mulheres e adolescentes” ao entrar em um banheiro em Los Angeles.
“Externamos nosso repúdio às postagens publicadas por Patrícia Lélis e informamos que vamos aplicar ao caso as normas estatutárias cabíveis, de forma a deixar claro que o PT jamais compactuará com narrativas de ódio e preconceito como é a transfobia”, disse o partido em nota publicada em 2021.
Entenda o caso
Entre outros crimes, a Justiça norte-americana também acusa a brasileira de ter falsificado formulários de imigração dos EUA, forjado múltiplas assinaturas e criado recibos falsos. No Twitter, a brasileira confirmou ser o alvo do FBI: em uma publicação na rede, ela afirmou que “começou 2024 sendo ‘procurada’ pelo FBI por mesmo o governo sabendo que estou em asilo politico em outro pais”.
De acordo com a acusação, Patrícia se passou por uma advogada de imigração capaz de ajudar clientes estrangeiros a obter vistos E-2 e EB-5 para os Estados Unidos. O programa EB-5 proporciona residência permanente legal e possível cidadania, se um cidadão estrangeiro investir fundos substanciais – normalmente, um mínimo de 1 milhão de dólares – em empresas qualificadas que criam empregos nos Estados Unidos.
Em setembro de 2021, Patrícia teria enviado um acordo de retenção legal a uma vítima para obter ajuda na obtenção de vistos EB-5 para os pais dela. A vítima fez dois pagamentos iniciais totalizando mais de US$ 135.000. Segundo a brasileira, o dinheiro iria para um projeto de desenvolvimento imobiliário no Texas que se qualificava para o programa EB-5.
Apesar disso, na realidade, o dinheiro teria ido para a conta bancária pessoal de Patrícia. Em vez de investir o dinheiro conforme prometido, a mulher supostamente usou os recursos para pagar a entrada de sua casa em Arlington, reformas e outras despesas pessoais, como dívidas de cartão de crédito, segundo a Justiça dos EUA.
A brasileira ainda é acusada de atuar ativamente para encobrir o esquema e obter mais dinheiro. Para dar um caráter real à operação fraudulenta, Patrícia teria inventado o número do processo que estaria correndo na Justiça. A mulher ainda teria convencido amigos a se passarem por funcionários do fundo de investimento do Texas — que nunca existiu — em ligações e videochamadas com uma das vítimas. Quando a vítima se recusou a enviar mais dinheiro, Patrícia teria ameaçado os pais dela.
Formalmente, a Patrícia é acusada de fraude eletrônica, transações monetárias ilegais e roubo de identidade agravado. Ela pode pegar uma pena máxima de 20 anos de prisão se for condenada por envolvimento em fraude eletrônica, um máximo de 10 anos se for condenada por transações monetárias ilegais e um mínimo obrigatório de dois anos adicionais de prisão se for condenada por roubo de identidade agravado.
Outro lado – “Meu crime: Peguei documentos de uns norte-americanos safados que me pediram para ser bode expiatório contra os meus e meti o pé. Boa sorte, USA, e contem sempre comigo para estar contra o governo norte-americano. Foram meses de perseguições e falsas acusações“, diz ela. Procurada pelo jornal O GLOBO para se posicionar sobre o caso, Patrícia Lélis não respondeu.
Por Didi Galvão
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