Ele esperou por mais de 4h para ser
atendido e recebeu ‘mata-leão’ de PM
O
empresário Crispim Terral, 34 anos, acusa a Caixa Econômica Federal de racismo,
após ter sido expulso de uma agência e retirado à força pela Polícia Militar,
que atendeu ao chamado da gerência da unidade, que fica no Relógio de São
Pedro, na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. A ação, que ocorreu na tarde
da terça-feira (19) passada, foi toda gravada e as imagens divulgadas em uma
rede social do empresário. Crispim é proprietário da Farmácia Terral, em
Salinas das Margaridas, no Recôncavo baiano.
Crispim
denunciou que, após esperar por mais de quatro horas na agência, para receber
um atendimento, o gerente pediu que ele se retirasse. Após negativa do cliente,
o funcionário acionou uma equipe da Polícia Militar.
Em contato
com o CORREIO, Crispim contou que, durante dois meses, vem mantendo contato com
a agência bancária para receber o comprovante de pagamento de dois cheques. Um
no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056 – ambos foram devolvidos pela
agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na
conta para compensá-lo. No entanto, após o pagamento, o valor foi descontado.
Ele cobrava o estorno de R$ 2.056, retirado de forma indevida da sua conta, e o
comprovante de que o pagamento havia sido efetuado pelo banco.
ESPERA
Após ir sete vezes na agência e não conseguir solucionar o problema, o empresário resolveu procurar atendimento mais uma vez na semana passada – ele estava acompanhado da filha de 15 anos. O empresário disse que foi atendido por um gerente de prenome Mauro.
Após ir sete vezes na agência e não conseguir solucionar o problema, o empresário resolveu procurar atendimento mais uma vez na semana passada – ele estava acompanhado da filha de 15 anos. O empresário disse que foi atendido por um gerente de prenome Mauro.
“Ele me tratou de forma indiferente em relação aos
outros clientes que estavam lá. Eu tive que esperar durante quatro horas até me
cansar e ir até à mesa do gerente geral”, contou.
Cansado da espera, o cliente resolveu tentar
solucionar o problema com o gerente geral, identificado por ele como João
Paulo. Ele afirma que o funcionário o tratou de forma ríspida ao ser
questionado sobre o tempo de espera e o atendimento prestado.
“Ele então acabou chamando a polícia depois que eu
me recusei a sair da mesa dele. Após uma hora, os policiais chegaram no local
e, à princípio, não fui maltratado. Eles quiseram me conduzir à delegacia junto
com o gerente geral, mas ele afirmou que só iria se ‘esse tipo de gente’ saísse
algemada. Só quem sofre o racismo, sente a dor”, contou.
MATA-LEÃO
Depois de se recusar a ser algemado, o empresário acabou recebendo um “mata-leão” – golpe de estrangulamento – de um dos PMs. O vídeo do momento em que Crispim é imobilizado foi gravado pela filha de 15 anos. “Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico”, disse.
Depois de se recusar a ser algemado, o empresário acabou recebendo um “mata-leão” – golpe de estrangulamento – de um dos PMs. O vídeo do momento em que Crispim é imobilizado foi gravado pela filha de 15 anos. “Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico”, disse.
Crispim afirma que foi conduzido pelos policiais em
uma viatura à Central de Flagrantes, onde foi autuado por desobediência e
resistência. Logo em seguida, ele procurou uma unidade de saúde – a UPA dos
Barris – onde recebeu atendimento por sentir fortes no maxilar, cabeça, pescoço
e ombro esquerdo. Ele prestou uma queixa contra os PMs na Corregedoria da
Polícia Militar na quarta-feira (20).
Segundo o relato do empresário, registrado na
Corregedoria e disponibilizado por ele em uma rede social, os soldados Roque da
Silva e Rafaeal Valverde Nolesco iniciaram as agressões físicas contra ele
dentro da agência, onde ele foi imobilizado com uma gravata, e levando-o ao
solo, diante de sua filha de 15 anos.
A assessoria da Caixa Econômica Federal foi procurada mas, até o momento, não
respondeu a solicitação da equipe de reportagem.
“Estamos apurando.
Recebemos o vídeo e encaminhamos à Corregedoria (PM) para que fossem ouvidas
todas as pessoas envolvidas, inclusive saber da atuação policial e com certeza
daremos uma resposta”, disse o secretário da Segurança Pública da Bahia,
Maurício Barbosa.
Em nota, a
PM informou que o 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foi
acionado por prepostos da agência porque um dos clientes se recusava a deixar a
agência, mesmo após o término do expediente.
A nota diz
ainda que, no local, os policiais militares conversaram com o gerente da
agência e ele relatou que o homem estava solicitando um comprovante de
transação, que não poderia ser fornecido naquele momento, e pediu a remoção do
cidadão do interior do estabelecimento em razão do encerramento do expediente
bancário.
“Os
policiais, então, dirigiram-se ao homem e solicitaram que ele acompanhasse a
equipe junto com o representante da agência bancária à delegacia, para
formalização da ocorrência em razão do impasse gerado pelo conflito de interesses.
Os policiais relataram que o cidadão começou a se exaltar e dizer que não
sairia da agência sem ter a sua demanda atendida, contrariando a recomendação
das autoridades que intervieram no conflito”, diz a nota.
A PM alega
ainda que “houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer
cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem
o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução
técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição
suprimindo parte do ocorrido”.
Ainda
segundo a polícia, uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar
todas as circunstâncias da intervenção policial. A polícia informa também que,
apesar de ser um estabelecimento federal, quando a PM é acionada tem o dever de
atender a ocorrência.
USO DE ALGEMAS
DE ACORDO COM O PORTA-VOZ DA PM, CAPITÃO BRUNO, O USO DAS ALGEMAS É RECOMENDADO AOS POLICIAIS EM SITUAÇÕES EM QUE OS SUSPEITOS “EXPÕEM RISCOS AOS INTEGRANTES DA POLÍCIA OU A SI MESMO”.
DE ACORDO COM O PORTA-VOZ DA PM, CAPITÃO BRUNO, O USO DAS ALGEMAS É RECOMENDADO AOS POLICIAIS EM SITUAÇÕES EM QUE OS SUSPEITOS “EXPÕEM RISCOS AOS INTEGRANTES DA POLÍCIA OU A SI MESMO”.
“Como, por
exemplo, quando o indivíduo está se debatendo e fora de controle. Nesse caso, é
preciso uma contenção policial”, explicou o capitão.
Ainda de
acordo com o porta-voz, parte do vídeo foi suprimido e, por isso, uma
sindicância está sendo aberta para tentar resgatar o que aconteceu momento
antes do empresário receber o “mata-leão” do policial.
“O vídeo
tem uma edição, ele foi editado de forma a induzir esse entendimento. Há um
momento que foi suprimido, vamos utilizar também imagens da própria agência
para apurar. O relato dos policiais é de que eles tentaram por diversas vezes,
e de forma amigável, fazer com que ele se retirasse da agência para
acompanhá-los à delegacia, mas ele afirmou que só sairia depois que sua demanda
fosse atendida. Ele chegou a se exaltar, falando alto com os PMs”, afirmou.
POSICIONAMENTO
O presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos afirmou que a associação repudia qualquer tipo de preconceito. Ele disse ainda que o sindicato está reunido com funcionários e superintendentes da Caixa.
O presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos afirmou que a associação repudia qualquer tipo de preconceito. Ele disse ainda que o sindicato está reunido com funcionários e superintendentes da Caixa.
“O
sindicato não compactua com nenhuma prática racista, inclusive temos um
departamento de combate ao racismo e estamos entre as entidades que mais
participam das manifestações de combate ao racismo institucional. Por outro
lado, não achamos correto linchar a reputação das pessoas sem ouvir o outro
lado. Compreendemos que é necessário que haja apuração antes de se emitir
qualquer posicionamento. A priori, o sindicato está reunido com a
superintendência da Caixa com os colegas da agência. Existem outras versões
para o episódio que consideramos necessários serem ouvidas”, disse.
Registro na Corregedoria da PM (Foto: Reprodução)
POLÍCIA
OZILDO ALVES
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