Lula foi
carregado após discursar em frente ao sindicato dos metalúrgicos neste sábado
(7) (Foto: Miguel Schincariol/AFP)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se
entregou à Polícia Federal (PF) na noite deste sábado (7) após ficar dois dias
na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Ele
estava no edifício no Centro da cidade do ABC desde quinta-feira (5), quando o
juiz Sérgio Moro expediu mandado de prisão.
Ele saiu a pé da sede do sindicato às 18h42 e
caminhou até um prédio próximo, onde equipes da PF o aguardavam. A saída teve
de ser feita dessa maneira porque, às 17h, Lula tentou sair de carro, mas foi
impedido pela militância.
O ex-presidente, então, voltou para o interior do
prédio. Após mais de uma hora, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman,
subiu em um carro de som e disse para a militância que a PF deu meia hora para
que eles resolvam a situação e, se não for resolvida, “é Lula que vai sofrer a
consequência”.
“Quando Lula tomou a decisão, ele tomou a decisão
baseada em uma situação. A resistência nós podemos fazer. Mas a leitura que
fazemos aqui não é a nossa resistência, mas é a resistência dele”, disse.
CONDENAÇÃO
Lula foi condenado em duas instâncias da Justiça no
caso do triplex em Guarujá (SP). A pena definida pela 8ª Turma do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) é de 12 anos e 1 mês de prisão, com início
em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Por volta das 12h, Lula discursou por 55 minutos
durante ato religioso em homenagem a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que
completaria 68 anos neste sábado e afirmou que não iria “correr” e “nem se
esconder”. O ex-presidente também criticou as decisões do judiciário.
“Não pensem que eu sou contra a Lava Jato, não… a
Lava jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou, e prender.
Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos: ‘só prende pobre,
não prende rico’. ‘Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico.
Eu quero. Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento
subordinado à imprensa porque, no fundo, no fundo, você destrói as pessoas da
sociedade na imagem das pessoas e, depois, os juízes vão julgar e falar: ‘eu
não posso ir contra a opinião pública, porque a opinião pública tá pedindo pra
caçar’. Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga e vá ser
candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. A toga é
o emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do
processo.”
Durante o discurso, Lula pediu que o juiz Sérgio
Moro apresentasse prova contra ele. “Eu não tenho medo deles, eu até já falei
que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra
mim, gostaria que ele me mostrasse alguma prova. Qual o crime que cometi neste
país? […] porque sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhares
de pessoas pobres na economia, dar vagas nas universidades e empregos para os
pobres?”, questionou.
O prazo dado pelo juiz federal Sérgio Moro para
Lula se apresentar espontaneamente expirou às 17h desta sexta-feira (6), mas o
ex-presidente, em conjunto com seus advogados e colegas de partido, decidiu
permanecer no sindicato.
Lula chegou à sede do sindicato na quinta-feira (5)
às 19h15, uma hora e 22 minutos depois de Moro assinar o despacho da prisão.
Durante toda a sexta, recebeu seus advogados, amigos e correligionários para
definir como seria sua apresentação à PF. Do lado de fora, lideranças do PT, de
sindicatos e de outros partidos de esquerda se revezaram no carro de som para
discursar em apoio ao ex-presidente a milhares de correligionários. Por volta
das 21h, militantes começaram a levar sacos de dormir e comida. Centenas
passaram a madrugada deste sábado na sede do sindicato.
Manifestantes também fizeram atos contrários ao
ex-presidente em 24 estados e no Distrito Federal.
A prisão de Lula foi determinada por Moro na quinta
condenado em duas instâncias da Justiça no caso do triplex em Guarujá (SP).
A pena definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF-4) é de 12 anos e 1 mês de prisão, com início em regime
fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O juiz vetou o uso de
algemas “em qualquer hipótese”.
A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um
habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF), mas na quarta-feira
(4) o pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5. A defesa queria que a
pena só fosse cumprida após o trânsito em julgado do processo – ou seja, após
encerradas todas as possibilidades de recurso nos tribunais superiores, o que
foi rejeitado.
Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, um dos
defensores de Lula, afirma que “o mandado de prisão contraria decisão proferida
pelo próprio TRF-4 no dia 24/01, que condicionou a providência – incompatível
com a garantia da presunção da inocência – ao exaurimento dos recursos
possíveis de serem apresentados para aquele Tribunal, o que ainda não ocorreu”.
Nesta quinta, o TRF-4 encaminhou um ofício a Moro
autorizando o início da execução da pena.
A defesa do petista, contudo, ainda pode apresentar
um último recurso ao TRF-4, que não tem, porém, o poder de reverter a
condenação. O prazo de 12 dias para a apresentação desse recurso começou a
contar no último dia 28 e termina em 10 de abril.
No despacho, Moro afirma que tais recursos são
“patologia protelatória”.
“Hipotéticos embargos de declaração de embargos de
declaração constituem apenas uma patologia protelatória e que deveria ser
eliminada do mundo jurídico”, escreveu Moro.
“De qualquer modo, embargos de declaração não
alteram julgados, com o que as condenações não são passíveis de alteração na
segunda instância”, completou.
Esgotadas as chances de recurso no TRF-4, os
advogados de Lula ainda podem recorrer contra a condenação no Superior Tribunal
de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
Lula é acusado de receber o triplex no litoral de
SP como propina dissimulada da construtora para favorecer a empresa em
contratos com a Petrobras. O ex-presidente nega as acusações e afirma ser
inocente.
PRISÃO
Uma sala foi reservada para Lula no último andar
Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná.
Lula deixou prédio do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), andando. (Foto:
Reprodução/GloboNews)
“Esclareça-se que, em razão da dignidade do cargo
ocupado, foi previamente preparada uma sala reservada, espécie de Sala de
Estado Maior, na própria Superintendência da Polícia Federal, para o início do
cumprimento da pena, e na qual o ex-presidente ficará separado dos demais
presos, sem qualquer risco para a integridade moral ou física”, diz Moro no
despacho.
No despacho, o magistrado ainda determinou a
execução da pena de prisão contra os ex-executivos da OAS José Adelmário
Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, e Agenor Franklin Magalhães Medeiros. Ambos já
estão presos na carceragem da PF em Curitiba.
CANDIDATURA
Confirmada a condenação e encerrados os recursos na
segunda instância judicial, Lula fica inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
Na esfera eleitoral, porém, a situação do
ex-presidente será decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deverá
analisar seu eventual registro de candidatura.
Os partidos têm até o dia 15 de agosto para
protocolar candidaturas. Já o TSE tem até o dia 17 de setembro para aceitar ou
rejeitar as candidaturas.
O ex-presidente pode, ainda, fazer um pedido de
liminar (decisão provisória) ao TSE ou a um tribunal superior que lhe permita
disputar as eleições de 2018. A Lei da Ficha Limpa prevê a possibilidade de
alguém continuar disputando um cargo público caso ainda existam recursos contra
a condenação pendentes de decisão.
OZILDO ALVES
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