País começa 2018 de olho nas eleições presidenciais
e na expectativa de uma saída para a instabilidade
Imerso numa profunda crise política que se arrasta desde 2014,
o Brasil começa 2018 de olho nas eleições presidenciais e na expectativa de uma
saída desse cenário marcado pela instabilidade. O retorno do eleitor às urnas,
no entanto, tampouco oferece um horizonte seguro para o futuro político
brasileiro.
Em
pesquisa publicada pelo Datafolha em 2 de dezembro, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva aparece liderando as pesquisas de intenção de
voto para as eleições presidenciais com 34% das intenções de voto,
seguido por Jair Bolsonaro, com 17%. Atrás deles, Marina obteve 9%, ficando
tecnicamente empatada com Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT), ambos com
6%.
A Sputnik Brasil
faz uma análise sobre os possíveis cenários que podem definir o futuro político
brasileiro a partir das eleições presidenciais de 2018.
O FATOR LULA
Condenado
pelo juiz Sérgio Moro pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá sua situação jurídica decidida
pelo tribunal de segunda instância, que pode torná-lo inelegível se confirmar a
condenação.
Tendo em
vista que o ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenções de voto e
realiza uma pré-campanha eleitoral à todo vapor pelo país, a definição de seu
processo pode ser encarado como um divisor de águas em relação às eleições.
Caso seja absolvido e dispute a corrida eleitoral, Lula tem grandes chances de
voltar à presidência, mesmo com a grande rejeição ao projeto do PT por parte de
significativa parcela da sociedade brasileira, desencadeada pelo processo de
impeachment de Dilma Rousseff.
Lula
ainda mantêm uma grande popularidade na sociedade brasileira, sobretudo entre
as camadas mais pobres da população, conquistada principalmente pelos
programas sociais implementados durante seus 8 anos de governo, o que
significou a saída de milhões de brasileiros do mapa da fome e uma
significativa distribuição de renda no Brasil, tendo os programas Bolsa Família
e Fome Zero como carros-chefe do seu projeto social.
No
entanto, as limitações do projeto do PT ficaram expostas com a
promiscuidade do Partido dos Trabalhadores com grupos políticos e empresariais
envolvidos em severos escândalos de corrupção deflagrados pela Lava Jato,
gerando, por um lado, grande rejeição por uma parcela da população e, por
outro, uma alta dose de descredibilidade por parte da própria esquerda
brasileira.
O
provável retorno ao poder, em caso de absolvição, colocará o ex-presidente,
portanto, no epicento de um país polarizado e instável, deixando uma incógnita
sobre a sua capacidade de conseguir governar o Brasil. Caso seja condenado e
fique ilegível, abre caminho para uma maior ascensão de Jair Bolsonaro, que
lidera as pesquisas na ausência do petista.
Com uma plataforma
política marcada por um discurso intolerante com minorias e rejeição aos
direitos humanos, o candidato Jair Bolsonaro, que há algum tempo atrás teria
sua candidatura tratada como piada, cresceu bastante nas pesquisas e vem se
consolidando como o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para
as eleições presidenciais de 2018, tendo chances reais de se tornar
presidente.
Por um
lado, uma possível vitória de Bolsonaro e seu discurso totalitário gera um
cenário nebuloso e incerto para a democracia brasileira. Com notórias
declarações explicitamente preconceituosas contra homossexuais, mulheres, e
pronunciamentos elogiosos a práticas da ditadura e torturadores deste período,
Bolsonaro inflama a direita radical diante da crise política brasileira
provocada pela descrença nos partidos políticos tradicionais. Uma presidência
de Bolsonaro representaria, portanto, a maior ameaça à jovem democracia
brasileira desde o fim da ditadura militar.
Por
outro lado, Bolsonaro se aproxima de um discurso liberal em alta, o que aumenta
o seu eleitorado com ideias econômicas contrárias à presença do Estado na
economia. Mas o preparo para governar e estabilizar o país do ponto de vista
econômico não gera maior segurança. Com um discurso vago contra a corrupção,
Bolsonaro já manifestou em diversas entrevistas demonstrações de despreparo e
desconhecimento sobre temas fundamentais da economia brasileira. Ele chegou a
cometer incoerências históricas ao afirmar que durante a ditadura os militares
teriam levado o Brasil ao lugar de 8ª maior economia do mundo, igorando a
explosão da dívida externa e a hiperinflação que se deu no período.
Ele
chegou a ser comparado ao caso do presidente dos EUA, Donald Trump, pela mídia
internacional, por conta da popularidade angariada na descrença e crise da
classe política, dificuldade de dialogar com as críticas e, sobretudo,
pelo discurso conservador e agressivo.
Diante
de um período marcado pela extrema polarização na sociedade e séria recessão
econômica, além dos inúmeros escândalos que marcaram o impopular governo de
Temer, uma possível eleição de Bolsonaro representa uma perigosa guinada ao
extremismo no país.
VELHOS NOMES OU POSSÍVEIS SURPRESAS?
Tecnicamente
empatados nas pesquisas de intenção de voto, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes
(PDT) correm por fora na disputa eleitoral na busca de aumentar as chances
de chegar à presidência com o fator da imprevisibilidade que pode surgir com
uma possível saída de Lula do páreo. Candidatos veteranos em eleições
presidenciais passadas, Ciro e Marina ainda podem surpreender, tendo em vista a
flexibilidade do eleitorado em relação aos outros pré-candidatos.
Pesquisas
mostram, por exemplo, que Marina Silva seria muito beneficiada no
caso de uma condenação de Lula na Lava Jato, ficando somente 5% atrás de
Bolsonaro em uma disputa sem a presença do ex-presidente.
Já Ciro
Gomes vem declarando estar convicto de que consegue angariar os votos que iriam
para Lula se o petista ficar ilegível ou desistir das eleições. Além disso, o
ex-ministro do governo Lula vem alcançando uma boa projeção através das redes
sociais, com uma grande adesão de seguidores disseminando vídeos, entrevistas e
palestras, em que vem convencendo parte da população sobre o seu preparo para
guiar a economia do país e com o seu discurso duro contra as reformas
impopulares do governo Temer.
DISPUTA INTERNA DO PSDB
Outro fator que
pode embaralhar ainda mais a disputa pela presidência é a decisão sobre o
candidato do PSDB. O prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador do
Estado, Geraldo Alckmin, protagonizam uma disputa interna no partido que tenta
recuperar sua imagem, desgastada pelos escândalos de corrupção da Lava Jato.
Com uma
imagem mais “nova” na política brasileira, Doria supera Alckmin em todos os
cenários, mas enfrenta o desafio de superar a briga interna contra o seu mentor
político e reverter a brusca queda de sua popularidade após um ano à frente da
prefeitura paulista. Além disso, Doria é visto como um político com mais
desenvoltura na auto-promoção e na estratégia de marketing do que na formação
de alianças políticas, sendo uma opção de maior risco para o PSDB.
Alckmin,
por sua vez, tem seu nome mais vinculado ao que pode ser entendido como a
“velha política”, sendo mencionado indiretamente na delação da Odebrecht e
tendo uma imagem que vai na contramão da expectativa da população brasileira
por uma renovação no cenário político.
Entre a
esperança de uma saída da crise política e a insegurança em relação ao futuro
da democracia brasileira, a única certeza que o eleitor parece ter é de que o
xadrez político do país ainda está longe de ficar claro, tendo em vista os
desdobramentos políticos e judiciais que ainda podem alterar bastante o desenho
do pleito eleitoral de 2018.
http://oumarizalense.com/entenda-possiveis-cenarios-que-podem-definir-futuro-politico-brasileiro/
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