© Foto: Gabriel Lordello/Agência O Globo
O estudante Raphael Souza,
de 19 anos, estava nas margens do canal de São Joaquim, na zona norte de Belém,
quando foi abordado por dois homens que pediam o seu celular. Negou-se a entregar
o aparelho e foi atingido com um tiro no peito, o que causou pânico no seu
irmão, testemunha do crime. “É uma sensação ruim lembrar disso. Vi meu irmão
morrer e nada pude fazer, porque também morreria se reagisse”, disse o parente,
que prefere esconder a identidade e ainda vive com medo.
Duas pessoas chegaram a ser presas pela morte de
Souza em setembro do ano passado, mas hoje estão soltas. Um adolescente de 17
anos foi liberado sem cumprimento de medida socioeducativa. O seu suposto
parceiro, Júlio Oliveira, de 25 anos, disse à Justiça que foi o rapaz quem fez
o disparo, conseguindo pouco tempo depois também sair da prisão. Em 2016, o
Pará foi o Estado que teve a mais alta taxa desse tipo de crime, o latrocínio,
no País: 2,4 por 100 mil habitantes.
+++ ‘Eu choro todos
os dias’, diz mãe de vítima de latrocínio no Rio
Dados inéditos do 11.º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado nesta segunda-feira, 30, mostram que esse crime subiu 57,8% no País entre 2010 e o ano passado, quando houve 2,5 mil registros ou sete casos por dia. A análise do Fórum, que reúne números oficiais, é a mais relevante do setor. A organização reúne pesquisadores e policiais no debate de políticas públicas.
Dados inéditos do 11.º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado nesta segunda-feira, 30, mostram que esse crime subiu 57,8% no País entre 2010 e o ano passado, quando houve 2,5 mil registros ou sete casos por dia. A análise do Fórum, que reúne números oficiais, é a mais relevante do setor. A organização reúne pesquisadores e policiais no debate de políticas públicas.
No total, foram 13,8 mil assassinatos durante roubos desde 2010.
De acordo com especialistas, a crise econômica associada a problemas em
programas estaduais de redução de criminalidade – que perderam investimentos –
é um dos fatores para entender os indicadores. Com a recessão, em muitos
Estados houve queda tanto da capacidade de policiamento nas ruas quanto de
investigação.
O latrocínio tem punição pesada prevista no artigo 157 do
Código Penal. A pena de prisão é de 20 a 30 anos, o máximo
permitido pela lei brasileira.
Ainda assim, os bandidos não têm se desencorajado. No Rio, a
situação é especialmente preocupante. Pernambuco (cujo número de casos saltou
de 114 para 167) e Espírito Santo (de 35 para 53) são outros que tiveram altas
proporcionais relevantes. Pernambuco teve um programa considerado modelo em redução
de mortes violentas, que perdeu força nos últimos anos.
A liderança é do Pará, que subiu uma posição em relação a 2016.
Rondônia passou da 20.ª para a 7.ª posição; Pernambuco pulou nove posições,
sendo agora o 8.º. Assassinatos
cometidos durante roubos cresceram em 19 Estados, como Rio e Pará, entre 2015 e
2016.
A Secretaria de Segurança do Pará disse que
esclareceu vários latrocínios e que o resultado disso já está no Judiciário. A
pasta contesta os dados do anuário, afirmando que seu levantamento não bate com
o resultado da pesquisa, mas não apresentou seus dados. O Ministério da Justiça
e da Segurança Pública não comentou os dados.
Causas
O diretor executivo do Instituto Sou da Paz,
Ivan Marques, associa o fenômeno ao crescimento dos crimes patrimoniais. “O
latrocínio é um tipo de crime contra o patrimônio, não à toa as polícias falam
que é o roubo que deu errado. Aumentando o roubo, como vimos em 2016, o
latrocínio também vai crescer, gerando esses dados espantosos.”
Marques diz que há um conjunto de fatores que
influenciam, entre eles o “momento econômico”. “O roubo produz uma sensação de
insegurança ligada ao cerceamento da liberdade de ir e vir, levando as pessoas
a mudarem hábitos. Com o latrocínio, esse sentimento é agravado, pois há
violência letal.”
O Fórum divulgará nesta segunda os dados
completos do anuário. O principal número esperado é o de homicídios totais de
2016. O balanço deve mostrar crescimento da violência, segundo apurou a
reportagem.
Em relação a 2017, o Estado mostrou em agosto que o País já havia registrado
28 mil homicídios no primeiro semestre.
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