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domingo, 25 de outubro de 2015

TEMA DA REDAÇÃO FOI A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL 2º DIA DO ENEM TEM LUIZ GONZAGA, CHICO BUARQUE, HIP HOP E CRISE HÍDRICA

Provas de domingo começaram às 13h30 e terminam às 19h.
g1/ba
O segundo e último dia de provas da edição 2015 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve questões que citaram os artistas Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Chico Buarque, Toquinho e Arnaldo Antunes. Já a prova de matemática foi baseada em situações do cotidiano, como a crise hídrica e a vacina do HPV. Cálculo de área, probabilidade, logaritmo e porcentagem também estiveram no caderno de provas, que exigiu leitura de gráficos.
O tema da redação foi "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". A redação teve quatro textos de apoio.
Neste domingo (25), os alunos têm cinco horas e trinta minutos para as questões e Linguagens, códigos e suas tecnologias, redação e matemática. Os portões se fecharam às 13 e a prova se encerra às 19h, no horário de Brasília.
Trecho do Mapa da Violência de 2012 foi um dos textos de apoio da redação do Enem 2015 (Foto: Reprodução)Trecho do Mapa da Violência de 2012 foi um dos textos de apoio da redação (Foto: Reprodução)
Redação sobre violência
Na redação, o primeiro texto de apoio foi o mapa da violência de 2012, destacando dados sobre as mortes de mulheres ocorridas entre 1980 e 2010 (veja na imagem acima).
O segundo texto trouxe um levantamento sobre quais tipos de violências as mulheres sofrem. Em formato de gráfico, apresentou dados compilados pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, de 2014.
O terceiro texto de apoio apresentou uma imagem tirada de uma campanha produzida pela ONG Compromisso e Atitude contra o feminicídio. O quarto e último texto foi uma reportagem da revista "Isto É" que citava levantamento sobre o total de prisões e investigações baseadas na Lei Maria da Penha(Veja todos os temas de redação da história do Enem).
Matemática no Enem
Na prova de matemática, um tema que inspirou mais de uma pergunta foi a crise hídrica. Uma das questões falava sobre um condomínio que queria construir cisterna para o abastecimento de água, e outra questão envolveu uma família interessada em criar um reservatório para captação de água da chuva.
Todas questões foram contextualizadas com questões do cotidiano e usavam bastante análise de gráficos. Questões sobre cálculos de áreas de círculos e polígonos foram cobradas. Probabilidade, logaritmo e porcentagem também estiveram no caderno de provas.
Linguagens no Enem
Os principais autores citados na prova de Linguagens foram Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Lígia Fagundes Teles e Graciliano Ramos. Os famosos da Musica Popular Brasileira (MPB) também foram lembrados. Arnaldo Antunes teve seu Poema Concreto usado na prova. Também foram usados exemplos com Vinícius, Toquinho e Luiz Gonzaga. No caso de Gonzagão, uma de suas letras serviu de motivação para debater as variações linguísticas na língua portuguesa falada no Brasil.
O cantor e compositor Chico Buarque teve a letra "Essa Pequena" usada para abordar o uso coloquial do idioma com o objetivo de aproximar o leitor da sua mensagem.
Comentários sobre a Redação
Especialistas ouvidas pelo G1 afirmaram que o tema é pertinente e atual, e disseram que, ao contrário de algumas edições anteriores, neste ano só há um tipo de posicionamento em relação ao tema: contrário à violência.
"No ano em que o Enem propôs movimento migratório, ele dividiu os candidatos. Alguns foram mais a favor, outros acharam que ia ter falta de emprego no Brasil. No ano passado, com o tema da publicidade infantil, os candidatos também ficaram um pouco divididos. Por um lado, a publicidade ajuda a aquecer a economia, estimula o consumo, gera empregos. E tem o outro lado, o do estímulo ao consumo desenfreado, de não contribuir para a formação de cidadãos conscientes", afirmou ao G1 a professora Maria Aparecida Custódio, do laboratório de redação do Curso e Colégio Objetivo.
"Agora, defender a violência de qualquer pessoa é se colocar na contramão dos direitos humanos, e do próprio edital do Enem. Qualquer proposta que venha a fazer tem que contemplar os direitos humanos. Qualquer violência física, verbal ou psicológica é indefensável."
Defender a violência de qualquer pessoa é se colocar na contramão dos direitos humanos, e do próprio edital do Enem. Qualquer proposta que venha a fazer tem que contemplar os direitos humanos. Qualquer violência física, verbal ou psicológica é indefensável"
Maria Aparecida Custódio,
professora do Objetivo
A especialista em educação Andrea Ramal, elogiou o tema. "Eu acho que é um tema muito pertinente. Houve uma pequena pista ontem na prova de ciência humanas com aquela citação de Simone de Beauvoir, que já trazia a questão da mulher. É um tema atual, extremamente relevante para os jovens discutirem, ainda mais considerando que os índices de violência contra a mulher realmente pertinente no Brasil", afirmou ela ao G1.
"A gente pode comparar o Enem a um fórum de debates sobre direitos e deveres dos cidadãos. É como se o Enem convocasse 7 milhões de estudantes para discutirem uma questão, e uma questão social pertinente como a violência da mulher. Acredito que foi uma escolha muito feliz do tema porque ainda não conseguimos vencer essa chaga tão horrorosa. A aplicação da lei ainda não se efetivou", explicou Cida.
Segundo ela, os estudantes do colégio participaram de um simulado sobre o mesmo tema, que abordou a aprovação da lei do feminicídio, no primeiro semestre deste ano.
"Se trata de uma questão social, uma prioridade nas questões sociais, e também um tema no qual os alunos estão bastante acostumados. Muitos dos candidatos que estão fazendo a prova nesse momento já se depararam com a violência em algum momento, seja em casa, ou com algum vizinho ou conhecido.
Abordagem do tema passa pela Lei Maria da Penha
Segundo Andrea Ramal, para que uma redação do Enem 2015 tenha uma nota alta, é obrigatório citar a Lei Maria da Penha no texto. "A não ser que a lei já seja um dos textos motivadores, precisa ser citada. Tem que falar da relevância dessa lei, se vem sendo cumprida ou não, e por que, e que outras ações para além da lei o Brasil pode tomar para resolver essa situação, porque só com a Lei Maria da Penha não resolveu."
A não ser que a lei já seja um dos textos motivadores, precisa ser citada. Tem que falar da relevância dessa lei, se vem sendo cumprida ou não, e por que, e que outras ações para além da lei o Brasil pode tomar para resolver essa situação"
Andrea Ramal,
especialista em educação
Sobre a proposta de ação, Andrea disse que, de acordo com o tema deste ano, não será possível se sair bem sugerindo medidas muito genéricas, como, por exemplo, sugerir uma lei que combata a violência contra a mulher. "Acredito que nesse caso ele vai chover no molhado. A lei já existe. Provavelmente uma proposta interessante seria sugerir mais educação desde cedo sobre o assunto, uma discussão mais aberta nas mídias sobre o tema", disse ela. "A lei tem suas limitações, seja pelo cumprimento, seja porque as pessoas ficam receosas de denunciar."
A professora Cida, do Objetivo, afirmou que, além das pistas incluídas na coletânea de textos na prova, estudantes podem discutir diversos assuntos que configuram as causas da persistência da violência contra a mulher no Brasil. Alguns deles são a falta de discussão sobre a igualdade de gênero nas escolas, que fazem com que as crianças não entendam que suas mães têm o direito de serem protegidas, e acabem reproduzindo comportamentos violentos; a falta de rigorosidade do poder público para aplicar medidas protetivas em casos de mulheres que registram boletins de ocorrência contra seus parceiros, a falta de delegacias da mulher em número suficiente no país, e a permanência da sociedade patriarcal no Brasil, que traz a "questão de encarar a mulher como sexo frágil, indo na contramão das conquistas que a mulher têm tido".
Tema causa polêmica na web
A escolha do tema da redação do Enem 2015 gerou debates e polêmica no Twitter. Houve aqueles que defendessem a abordagem escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) e outros que fizeram críticas.
A prova de redação tem caráter dissertativo-argumentativo e os estudantes precisam escrever sobre o tema com base em textos de motivação apresentados na hora da prova. Até a publicação desta reportagem, o Inep ainda não tinha divulgado o teor destes textos. Segundo o Inep, "na prova de redação são avaliados aspectos relacionados às competências que devem ter sido desenvolvidas durante os anos de escolaridade. Os participantes devem defender uma tese – uma opinião – a respeito do tema proposto, apoiada em argumentos consistentes, estruturados de forma coerente e coesa, de modo a formar uma unidade textual".


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