Maior reservatório de água do Nordeste, a
barragem de Sobradinho, no rio São Francisco, atingiu neste sábado (24) o nível
mais baixo de sua história, aumentando o risco de desabastecimento hídrico em
consequência da pior seca dos últimos 83 anos.
A água acumulada no lago está em 5,41% de seu
volume útil –abaixo dos 5,46% de novembro de 2001, quando o país passou por um
racionamento de energia.
Inaugurada em 1979, a represa de Sobradinho
tem capacidade de 34,1 bilhões de metros cúbicos e corresponde a 58% da água
usada para geração de energia no Nordeste. Mas enfrenta grave estiagem –de
janeiro a outubro de 2015, choveu apenas 29,8% do esperado na região da
barragem.
"Todos os usuários devem estar
preparados para chegarmos ao volume morto. Isso não significará que a água
acabou, mas os usos [como geração de energia, irrigação e consumo] terão que se
adequar a essa realidade", alerta o superintendente de Operação da Chesf (Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco), João Henrique de Araújo Neto.
Projeções do ONS (Operador Nacional do
Sistema Elétrico) mostram que, se não voltar a chover na região, Sobradinho
deve atingir, em meados de dezembro, o volume morto - reserva de água abaixo do
ponto de captação que representa 15% da capacidade total do reservatório. Se
isso ocorrer, a usina hidrelétrica, que já opera com menos de 20% de sua
capacidade, deixaria de operar.
Segundo o ONS, contudo, não há risco de
racionamento, pois é possível usar fontes alternativas, como térmicas e
eólicas, e transferir energia de outras regiões por meio de linhas de
transmissão. Atualmente, as hidrelétricas representam 33% da energia gerada no
Nordeste.
A iminência do nível zero preocupa produtores
de frutas do perímetro irrigado Nilo Coelho, em Petrolina (PE) e Casa Nova
(BA), que têm produção anual de R$ 1,1 bilhão. O sistema atual retira água
diretamente do reservatório, mas não é preparado para funcionar abaixo do
volume morto.
Para permitir o aproveitamento
dessa água, a Codevasf, estatal ligada ao Ministério da Integração, iniciou em
setembro obras de instalação de bombas flutuantes e construção de um canal de
captação, com conclusão prevista para 15 de dezembro.
"Se chegar a esse limite e as obras não estiverem prontas, a
irrigação para. Se parar, deixa de atender 2.322 produtores, além de 130 mil
pessoas que usam água do sistema para consumo", afirma Paulo Sales,
gerente-executivo do Distrito de Irrigação Nilo Coelho.
Para manter mais água na represa, a ANA (Agência Nacional de
Águas) já autorizou a redução da vazão de Sobradinho de 1.300 m³/s para 900
m³/s - e avalia reduzir ainda mais, para 800 m³/s.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco,
Anivaldo Miranda, critica a redução. "Os impactos ambientais são
terríveis, como o assoreamento do leito, a erosão das margens e a água salina
que avança na foz do rio", criticou.
Uma das principais preocupações é o consumo humano. Com a vazão
menor, o nível da água baixou, exigindo adaptações nos sistemas de captação. Em
Remanso (BA), por exemplo, a água já recuou seis quilômetros.
"As prefeituras estão tendo custo maior para bombear. Em
algumas cidades, ainda captam do mesmo lugar, onde só tem uma poça de água
barrenta", disse Silvana Leite, membro do comitê gestor do lago de
Sobradinho.
NAVEGAÇÃO
INTERROMPIDA
A seca prolongada no São Francisco também afeta a pesca, com a
redução de espécies, como o surubim, e a navegação. A última empresa que
realizava transporte de cargas deixou de operar em abril de 2014, devido à seca
e ao assoreamento do rio. Hoje, até pequenas embarcações precisam fazer desvios
para não encalhar.
Esperada para começar em novembro, a temporada de chuvas no São
Francisco deverá atrasar, segundo meteorologistas, devido ao fenômeno El Niño -
o superaquecimento das águas do Pacífico que provoca redução das chuvas no
Nordeste.
Redação
FolhaPress
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