Em meio as chamas o gado com o cacto
O fogo que mata e queima é o fogo que alimenta os animais |
O fogo que mata, queima e torra o que
resta de pastagem é também o fogo que ajuda a salvar os animais castigados pela
seca. O mandacaru e o xiquexique, cactos nativo do semiárido, acabam sendo o
último desespero recurso para alimentar o gado que agoniza sem comida e água
para beber.
A queima do mandacaru com macariço para alimentar o gado |
O
mandacaru é queimado para torrar os espinhos, mas a fome é tanta que o gado
come o cacto ainda em chamas. É a desesperada luta pela vida na região
sisaleira.
O município de Nova Fátima, que já teve
um rebanho bovino superior a 12 mil animais e uma
produção de leite acima de 25 mil litros/dia, hoje está restrita a 4 mil.
Outro fator preocupante é o êxodo urbano
e rural, provocado pela saída de jovens em busca de trabalho em outros estados,
o que tem causado um colapso sem precedência à economia local, por causa dos efeitos da
estiagem que se abate sobre a área há quase três anos. Nova Fátima conta com
1.400 pessoas cadastradas na Bolsa Família e sete carros-pipa do Exército no
abastecimento de 19 comunidades.
“O município está arrasado: motores
parados, sisal dizimado, rebanho bovino reduzido em 40% e não há água e
pastagens. Seria muito bom se conseguíssemos alguma obra para que pudéssemos
empregar as pessoas que não tem o que fazer na roça. Estou de cabeça quente e
perdido sem saber o que fazer. A administração está praticamente parada nesses
primeiros 100 dias de mandato. Dos oito mil habitantes do município, na sede
tem 5 mil morando em Nova Fátima. A base econômica está restrita ao funcionalismo
municipal, estado, aposentados e Bolsa Família. Nova Fátima está se tornando
uma cidade de velhos e “fantasma”, por conta da saída dos jovens que estão
fugindo para São Paulo, Fortaleza, Mato Grosso (colheita de cana), Salvador e
Camaçari, em busca de trabalho e os que estão ficando aqui, são as mulheres e
os velhos”, relatou à Tribuna o prefeito Amado Moreira da Cunha (PR).
O gerente do posto de refrigeração de
leite da empresa Laca, Raimundo Carneiro da Cunha, que trabalha no ramo há 24
anos, disse que na época áurea, Nova Fátima, foi considerada uma das principais
bacias leiteira da região e tinha uma produção diária superior a 25 mil litros
de leite e hoje esses números não chegam a 4 mil.
O mesmo acontece com a unidade de
refrigeração que antes recebia cerca de 5 mil litros do produto/dia e agora não
passa de 300. Já o administrador da Fazenda Poço da Pedra, Paulo Celso Cunha
Ferreira, revelou que a propriedade que já teve mais de 300 cabeças de gado e
já chegou a comercializar quase 400 litros de leite/dia, agora não vende 40 e
lembra que a perda de animais na propriedade tem sido significante e só tem
mandacaru como ração.
A lavradora Maria Olivia diz que ha mais de 2 anos o rio Jacuipe ñ corre água |
A agricultora Luiza Carneiro, Fazenda
Lagoa de Dentro, disse que a situação é preocupante e está dando o cacto,
xiquexique queimado para o rebanho bovino que já foi de 60 cabeças e hoje não
passa de 20. Ela relata que as pastagens estão dizimadas e a única fonte de
alimentação para o rebanho tem sido o xiquexique e mandacaru. Ela diz ainda,
que já chegou a vender a arroba de boi a R$ 120 e agora não acha R$ 80.
Para a doméstica Raimunda Lopes
Carneiro, 71 anos, moradora da Fazenda Ingazeira, a seca está braba e água para
os animais só existe nos poços no leito do rio Jacuípe, assim mesmo com alto
teor de salubridade. A também moradora da Fazenda Ingazeira, Maria Olivia da
Silva Machado, 47 anos, mãe de três filhos, relatou que tem a Bolsa Família, como complemento da renda familiar e
que há mais de dois anos que o rio Jacuípe deixou de ser corrente.
Por Pedro Oliveira // Tribuna da Bahia
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