Valdomiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus,
recebe alta do hospital e repousa em casa
A câmera de televisão dá um zoom no pescoço do pastor Valdomiro
Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Ele arregaça a gola e
mostra o curativo da facada que levou no pescoço no culto de domingo de manhã.
“Imagina um facão com toda a força batendo sobre a sua jugular”, diz. Sentado
numa bancada ao lado da esposa, a bispa Francileia Santiago, o religioso afirma
em seu canal de TV que a camisa usada na hora do ataque já serviu até
para “curar” fiéis. Nas imagens, um membro da igreja aparece esfregando-a em
um manto.
“Passaram até a camisa ensanguentada no manto. Quando ela [a
fiel] tocou no manto, ela aplumou. Foi curada. O demônio fez o serviço dele,
mas acabou dando o contrário. No acerto de contas com o diabo, foi assim: ‘E
aí, como é que foi com o Valdomiro? O saldo foi negativo. Porque teve até gente
que saiu curada'”, diz o pastor, que se autointitula apóstolo. “A unção está na
nossa roupa, no nosso copo, no nosso relógio, na nossa aliança, no nosso
chapéu, no nosso sangue”, explica Santiago, fazendo o adendo de que o poder vem
de Deus e não dele.
No domingo, enquanto ele distribuía bênçãos aos fiéis na chamada
“imposição de mãos”, o ajudante-geral Jonathan Gomes Higino, de 20 anos,
aproximou-se dele e o golpeou com um facão no pescoço. Jonathan foi detido em
flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. O pastor foi
levado ao Hospital Sírio Libanês, onde levou 25 pontos, e recebeu alta após
passar menos de seis horas internado.
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Na TV Bandeirantes, Santiago chegou até a fazer
brincadeira com o ataque, dizendo que vai instituir agora a “fila do
açougue”. Para ele, ontem foi definitivamente um “dia de azar”. Despencou até
da maca quando era encaminhado ao hospital. “Eles me deixaram cair da
ambulância com a cabeça no chão. Eu estava com um azar aquele dia”,
completou.
Em entrevista a VEJA, o pastor Jorge Pinheiro, que assumiu
temporariamente o comando da Poder de Deus, disse que a camisa
ensanguentada de Santiago não seria utilizada para “fins simbólicos”, mas que
foi guardada “pela importância do que aconteceu”.
“FOI
A MÃO DE DEUS QUE SALVOU”
Um dia depois do ataque, os membros da congregação se mostravam
espantados com a agressão e mais seguros na fé depositada em seu líder
religioso.
Na tarde desta segunda-feira, VEJA conversou com integrantes da
igreja no templo que fica bairro Brás, no centro da capital paulista, onde o
crime aconteceu. Sentado em uma cadeira na recepção, assistindo à entrevista de
Santiago dada ao apresentador José Luiz Datena, o funcionário da igreja
Marivaldo Lima de Assis não tinha dúvida sobre como o líder religioso
sobreviveu aos golpes de facão que levou: “Foi a mão de Deus que o salvou”.
Dentro do templo, que comporta até 40 mil pessoas, rezando
sozinho, o soldado Willian Costa Mendes, 22 anos, contou que estava na fila à
espera de benção do bispo quando tudo aconteceu. Mendes considera que o
atentado reforçou sua fé em Deus. “O apóstolo é um grande exemplo. A pessoa fez
maldade com ele e ele o mesmo o perdoou”, disse. O jovem disse ter chorado
depois do ataque.
Raimundo Simião, 61, também estava presente no domingo. Ele
ajudava na organização das filas das bençãos na hora do ataque. Sua admiração
por Santiago também cresceu depois do ataque: “Deus mostrou para o mundo
inteiro que está presente no apóstolo”.
Vinda de Aragarças, em Goiás, Cristine de Oliveira, 66, era uma
das 15 mil pessoas presentes naquela manhã de domingo. Ela ficou indignada por
ver uma pessoa do “quilate do apóstolo” ser atacada em seu próprio templo. “Eu
vi o sangue no chão e na hora já comecei a orar. Tenho mais fé nele agora, que
provou mais do que nunca que é um ungido de Deus”. Oliveira se disse
preocupada, com medo de que o apóstolo abandonasse os fiéis depois do ataque.
Já na sala de recepção da igreja, o clima era de normalidade. O
bispo Jorge Pinheiro, que estava no altar no momento da agressão disse não ter
visto o ataque. “Só percebi a gravidade quando ele passou por mim e disse
‘tentaram cortar minha carótida’”. Pinheiro conta que ouviu relatos de pastores
afirmando que o movimento nos cultos à tarde e à noite no domingo havia
aumentado. “Muitas pessoas foram orar pelo apóstolo.”
Sobre o agressor, o pastor disse que foi preso pelos seguranças
e ficou trancado em uma sala na igreja até que a polícia chegasse. Conforme o
bispo o esquema de segurança nos dias de cultos não será alterado.
Egresso da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro
Santiago rompeu com o bispo Edir Macedo e fundou em 1998 a Igreja Mundial do
Poder de Deus, denominação que, segundo a sua página na internet, tem 4500
templos no Brasil e no exterior.
MSN NOTÍCIAS
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