Ex-funcionário de colégio onde Beatriz foi morta se diz “pressionado” e
teme pela vida
Depois do
músico Ney Alves, irmão do jogador Daniel Alves, ser confundido com o retrato
falado do possível assassino da menina Beatriz Angélica Mota, de sete anos, um
ex-funcionário do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora virou a nova vítima das
redes sociais. A vida do assistente de direção de piscina, Adailton da Silva
Paixão, 30 anos, transformou-se num pesadelo desde a última segunda-feira (22),
dia em que a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) divulgou o retrato falado.
No dia
seguinte, áudios divulgados pelo WhatsApp com depoimentos de uma suposta prima
de Beatriz fazendo ilações de Adailton ao homem descrito por testemunhas se
espalharam como rastilho de pólvora. Num dos áudios, a mulher lembra que ele
foi demitido do colégio e chega a dizer que a polícia encontrou objetos
relacionados a magia negra, sugerindo que a morte de Beatriz poderia estar
ligada a um ritual de bruxaria em que outras pessoas também estariam envolvidas
– inclusive o ex-funcionário do colégio.
“Pelo que
está sendo divulgado no WhatsApp, parece que é uma parente da família que está
divulgando certas informações do andamento do processo que correm em sigilo.
Isso está trazendo um certo desconforto para mim e meus familiares, porque
estou com medo que aconteça alguma coisa com meu filho, com meu pai, com minha
mãe”, desabafou Adailton, em entrevista exclusiva ao Blog.
Ele disse
ainda estranhar que o teor dos áudios tenha uma parente da menina como autora,
já que numa das ouvidas pela qual foi convocado, conheceu os pais de Beatriz –
Sandro Romilton e Lúcia Mota – na delegacia. “Em nenhum momento ela (Lúcia) se
mostrou surpresa, achando que eu tivesse alguma coisa a ver”, relatou.
Mas o drama
do ex-funcionário não para por aí. Adaílton revelou que vem sendo pressionado
pela Polícia Civil a confessar algo que ele não tem como afirmar, devido ao
fato de ter trabalhado na portaria do colégio, na noite do crime (10 de
dezembro de 2015). Ele explicou que iria fazer outra função no evento, mas só
trabalhou como porteiro porque um colega seu teria ficado impossibilitado.
Mesmo assim, um dia antes da festa ele teria solicitado à direção do colégio o
apoio de mais um colega, sendo atendido.
“Como a
festa não tinha senhas, o que facilitaria nosso trabalho, tivemos todo o
cuidado de observar quem estava entrando no local, e não tinha ninguém mal
vestido ou de aparência suspeita, que chamasse a atenção. Eram mais de 2 mil
pessoas”, assegurou.
Humilhação
Apesar
disso, no último dos três depoimentos que prestou à polícia, na última terça
(23), ele se sentiu “humilhado” porque diz ter sido obrigado a confessar
detalhes do assassinato da menina. ‘Nas outras duas vezes não teve problemas
porque fui com o advogado. Mas dessa última eles queriam que eu dissesse coisas
que não sabia. Estou colaborando da melhor forma. Tudo o que eu sei já passei
pra eles. Não posso inventar histórias. Me senti humilhado, não sei se as
outras testemunhas estão passando pelo que passei”, afirmou.
Garantindo
não ter o que temer, Adailton – que é baiano, mas mora em Petrolina há 23 anos
– também questiona o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora por saber que a
instituição teria informado que ele havia passado por uma capacitação junto com
outros funcionários, feita por uma empresa de segurança da cidade, para exercer
a função no dia da festa. “Eu, pelo menos, não recebi nenhum treinamento”,
contou Adailton.
Ele conta
que vem passando por momentos de muita angústia. No final de janeiro deste ano,
ele foi demitido pela direção do colégio. Ainda assim, tem um filho estudando
lá e não pretende tirá-lo. Mas atualmente Adailton não esconde sua apreensão,
diante dos últimos acontecimentos. “Temo por minha família. Está muito
complicado esse lado psicológico. Tenho procurado os amigos para me ajudar”,
revelou.
Respostas
A reportagem
entrou em contato com a Polícia Civil, a qual por meio de sua assessoria
ressaltou que os trabalhos de investigação vêm sendo feitos de forma minuciosa
e idônea. “Mais de 80 pessoas já foram ouvidas e, assim como Adailton, tantas
outras que se fizer necessário também serão”. A Polícia lembrou que o
ex-funcionário já foi preso por porte de arma. Adailton disse que isso ocorreu
em 2009 e já cumpriu sua pena. Segundo ele, à época uma pessoa o ameaçava de
morte e essa foi a única forma que encontrou de se defender.
O gestor
administrativo do colégio, Carlos André, informou que em festas como a Aula da
Saudade, ocorrida no dia do crime, os funcionários são normalmente relocados
para dar assistência. Ele negou, no entanto, a informação de Adailton de que a
instituição tenha dito que ele tivesse recebido qualquer treinamento para a
função.
Antônio Carlos Miranda por Carlos Britto
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